Uma pesquisa conduzida com alunos do curso de MBA em ESG e Impact da Trevisan Escola de Negócios revela uma percepção preocupante de executivos e gestores, que vivenciam dificuldades e barreiras para a implementação de práticas ESG no dia a dia das empresas. Entre os obstáculos apontados, destacam-se a capacitação dos colaboradores e o engajamento interno.
A pesquisa contou com a participação de profissionais majoritariamente das áreas de Administração (24%), Engenharia (18%), Comunicação e Marketing (15%) e Direito (12%). O levantamento traz um panorama da visão de gestores de empresas privadas (85%), do Terceiro Setor (9%) e de órgãos governamentais (6%).
Embora 56% dos respondentes já atuem em posições diretamente ligadas a ESG, uma parcela significativa (62%) informou que as empresas onde trabalham ainda não oferecem treinamentos específicos sobre os impactos ambientais, sociais e de governança. Em 2022, na primeira pesquisa realizada com alunos, cerca de 46% disseram não haver capacitação sobre o tema e, em 2023, 71,4%. Os resultados sugerem que, apesar de os temas ganharem mais atenção ano após ano, os avanços práticos e a capacitação ainda evoluem em ritmo lento.
Quando questionados sobre as principais barreiras para a implementação de práticas ESG nas organizações, os participantes destacaram a falta de conhecimento sobre metodologias (18,6%) como o principal problema. Em segundo lugar, empatados com 15,3% cada, estão falta de engajamento interno, falta de pessoal capacitado e falta de conscientização.
Falta de conhecimento sobre metodologias também foi o problema mais apontado na primeira pesquisa, em 2022 (40,5% dos respondentes), seguido pela falta de pessoal capacitado.
Para a coordenadora do MBA em ESG e Impact da Trevisan, Adriana Vieira, os números representam uma oportunidade de crescimento para essas empresas. “É preciso que as lideranças, da média à alta, comecem a falar sobre isso, e a entender como as práticas ESG agregam valor ao negócio, além de pensar na sustentabilidade no seu sentido mais amplo, que é o de perenidade, ou seja, como minhas ações vão impactar no futuro”, explica.
Percepções sobre as práticas corporativas
A pesquisa também evidencia que, embora 61,7% dos respondentes se declarem satisfeitos com a postura ética das organizações em que atuam, apenas 38,2% consideram o nível de transparência adequado, com uma parcela semelhante de insatisfeitos (35,2%). Além disso, 85% afirmaram que há código de conduta nas empresas e 68% disseram haver canal para denúncias.
Na opinião da professora Adriana, os percentuais de código de conduta e de canal de denúncias deveriam estar próximos ou iguais, uma vez que um é uma ferramenta do outro. “Se a empresa possui um canal de denúncias, ela está permitindo a comunicação de irregularidades e condutas antiéticas ou ilegais, além de estar alertando que, se algo for descumprido, podem procurá-la. Além disso, ela está comprometendo a tomar alguma providência. Logo, se possui um código de conduta, o ideal é ter também o canal de denúncia”, avisa.
Outro ponto trazido pela pesquisa é sobre a atuação das empresas em temas como equidade de gênero, diversidade e inclusão, e responsabilidade com a comunidade. Dos respondentes, 29,6% estão insatisfeitos com o grau de equidade de gênero, enquanto 44% dos pesquisados consideram-se satisfeitos. Já em relação à diversidade e inclusão, 44,4% estão insatisfeitos, ao passo que 38% estão satisfeitos.
Por outro lado, 41,1% não aprovam as iniciativas voltadas para o impacto positivo nas comunidades ao redor das empresas. Estes índices ressaltam a necessidade de que a agenda ESG não se limite apenas ao cumprimento de normas, mas que busque criar um impacto tangível.
Também questionados sobre o grau de conhecimento das empresas sobre a atuação de ESG de seus fornecedores, 58,7% responderam estar insatisfeitos. Para a professora Adriana, a adoção de práticas ESG é um movimento que deve ser extensivo aos parceiros comerciais, porém exige das empresas um outro grau de maturidade. “É preciso cuidar de toda a cadeia de valor e entender todos os impactos. Cobrar um fornecedor pode gerar uma oportunidade de desenvolvimento de todos. As grandes empresas, por exemplo, têm capacidade de compartilhar sua expertise sobre o assunto”, sugere.
Os resultados do estudo indicam que, embora haja avanços em algumas áreas da agenda ESG, desafios internos e a falta de capacitação ainda freiam a implementação completa. “Para as empresas que buscam liderar pelo exemplo, o investimento em treinamento e na construção de uma cultura sólida de ESG é indispensável”, conclui a professora da Trevisan.