Inédito estudo “Justiça climática no Brasil”, da PwC Brasil e do Instituto Locomotiva, revela que, embora 91% dos brasileiros compreendam a importância das mudanças climáticas, e dos seus efeitos negativos, apenas 32% têm familiaridade com o assunto. A comparação desses dados ajuda a traduzir a distribuição desigual dos impactos na sociedade, conclui o estudo. A pesquisa, realizada entre março e abril de 2024 com mais de 1.500 pessoas em todas as regiões do país, indica que a conscientização é mais acentuada entre jovens e pessoas com ensino superior, o que reforça a necessidade de campanhas de informação voltadas para diferentes públicos.
O estudo destaca que 98% dos brasileiros já presenciaram fenômenos climáticos extremos em suas cidades, como aumento das temperaturas, chuvas intensas e alagamentos frequentes. No entanto, os impactos desses eventos não são sentidos de maneira igual, alerta Mauricio Colombari, sócio e líder de ESG na PwC Brasil.
“Mulheres, pessoas negras, comunidades indígenas e de baixa renda sofrem mais intensamente as consequências das desigualdades socioeconômicas históricas e menos acesso a medidas de mitigação. Este cenário sublinha a urgência de políticas públicas e iniciativas privadas que considerem essas desigualdades ao abordar a adaptação e mitigação climática”, comenta Mauricio Colombari.
O estudo também aponta uma forte demanda por ações efetivas de empresas e governos. Quase 90% dos entrevistados acreditam que empresas devem adotar iniciativas sustentáveis e que ONGs têm papel fundamental na luta contra as mudanças climáticas. Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, ressalta a disposição da população em apoiar políticas que priorizem a justiça climática.
“Esse estudo mostra que os brasileiros, além de entenderem a urgência do problema, estão prontos para apoiar ações que promovam a justiça climática, desde que tenham acesso a informações claras e confiáveis”, afirma Meirelles. Ele reforça ainda que a percepção da desigualdade climática pode ser um motor para o engajamento da sociedade, que cobra maior responsabilidade das organizações que contribuem para as mudanças climáticas.
Informação e desinformação
Uma desconfiança significativa em relação às informações científicas sobre o tema também foi identificada pelo estudo. Mais de 54% dos entrevistados questionaram a veracidade dos dados relacionados às mudanças climáticas, o que expõe a necessidade de uma comunicação mais eficaz que combata desinformações e incentive a confiança pública nas evidências científicas.
Apesar das desconfianças relacionadas às fontes, o brasileiro consome notícias sobre o assunto. A pesquisa indica que (97%) das pessoas entrevistadas diz buscar informações sobre mudanças climáticas para formar suas opiniões – desse total, 51% ainda prefere os meios tradicionais de comunicação, 25% o faz nas redes sociais e 20% opta por canais alternativos (1% respondeu “outros” e 3% respondeu que não se informa sobre o tema).
Segundo Mauricio Colombari, transparência e diálogo são fundamentais para gerar engajamento e promover uma mudança real. “Precisamos fortalecer a comunicação sobre sustentabilidade e justiça climática para gerar conscientização e mobilizar a sociedade. Isso inclui parcerias com ONGs, governos e setor privado para levar informações confiáveis e acessíveis a todos os grupos populacionais. A PwC está comprometida em impulsionar essa agenda de maneira transparente e inclusiva”, afirma o sócio da PwC Brasil.
Dívida e dilema do crescimento econômico
O estudo Justiça Climática destaca a importância de uma responsabilidade compartilhada no combate às mudanças climáticas, envolvendo empresas, governos e cidadãos em um esforço coletivo para reduzir desigualdades e promover um desenvolvimento sustentável.
“Esse compromisso é essencial para garantir um futuro mais justo e equilibrado, em que todas as comunidades tenham as mesmas oportunidades de adaptação e resiliência aos desafios climáticos”, comenta Renato Meirelles.
A pesquisa apresenta o conceito de “dívida climática”. Ela se refere à ideia de que os países desenvolvidos, que se beneficiaram economicamente ao longo de séculos da industrialização baseada em atividades com alta intensidade de carbono, devem uma compensação aos países que agora sofrem os efeitos extremos das mudanças climáticas.
Esses países desenvolvidos teriam a obrigação ética, moral e possivelmente legal de liderar a redução de emissões e auxiliar financeiramente países em desenvolvimento em suas estratégias de mitigação e adaptação. São conceitos presentes nas negociações climáticas internacionais, como no Acordo de Paris, debatido durante a Conferência do Clima em 2015.
Há, portanto, uma busca de equilibrar o avanço econômico dos países em desenvolvimento com a necessidade de ações climáticas dos países desenvolvidos. “A complexidade dessas questões requer uma cooperação global que inclua transferências de tecnologia, financiamento climático e desenvolvimento de capacidades técnicas e de adaptação. Essas medidas visam abordar de forma justa e eficaz tanto as causas quanto os efeitos das mudanças climáticas, reconhecendo e trabalhando para reduzir as disparidades históricas e atuais”, opina o sócio da PwC Brasil, Mauricio Colombari.