O Pacto Global – Rede Brasil, por meio das plataformas de Clima e de Direitos Humanos, apresenta dois novos Cadernos de Justiça Climática, produzidos em parceria técnica com a Latin American Climate Lawyers Initiative for Mobilizing Action (LACLIMA). Um é sobre Moda e Têxtil, abordando como o setor se conecta à crise climática, tanto por ser um dos grandes emissores de gases de efeito estufa quanto por sua alta vulnerabilidade. Para se ter uma ideia, no mundo todo, o setor de moda e têxtil responde por cerca de 8% a 10% das emissões globais de carbono, superando setores como aviação e transporte marítimo combinados. O outro, voltado para a Saúde, revela como a crise climática impacta diretamente na qualidade de vida das pessoas e destaca de que forma o setor pode contribuir para a mitigação e adaptação a esses desafios, além de fomentar a criação de sistemas de saúde mais resilientes e inclusivos.
As publicações, que foram apresentadas no side-event do Pacto Global na COP29 – Business & Climate Ambition, em 13 de novembro, trazem um estudo aprofundado dos setores, com casos de sucesso e ações práticas consistentes de justiça climática que integram a estratégia e modelo de negócios das áreas, colocando as pessoas em vulnerabilizadas no centro da tomada de decisão tanto ambiental quanto financeira das empresas. Para isso, foram consultados e envolvidos na elaboração do projeto tanto companhias quanto associações setoriais, órgãos reguladores, ministérios e órgãos federais, organizações especialistas da sociedade civil e o sistema ONU. O conteúdo dos cadernos de Moda e Têxtil e de Saúde estão disponíveis online para todas as pessoas interessadas.
“Todos os setores da economia, uns mais, outros menos, contribuem para a crise climática, mas também sofrem os efeitos dela, direta ou indiretamente, impactando negativamente seus negócios. Quando afeta as populações mais vulneráveis, o colapso climático também tem repercussões sobre a economia e os negócios. Um exemplo é o aumento das doenças cardiovasculares em decorrência do aquecimento global ou das doenças transmitidas por vetores, como a dengue e a zika, que sobrecarregam os sistemas de saúde, tanto público quanto privado. Assim, nosso objetivo com este projeto é apoiar as empresas a atenderem as demandas de stakeholders e acionistas relacionadas à justiça climática, desenvolvendo e implementando ações para reduzir suas emissões, mitigar os efeitos e socorrer as populações mais vulneráveis”, afirma Danielly Freire, gerente de Clima do Pacto Global – Rede Brasil.
Cada um dos cadernos traz capítulos de introdução à justiça climática, contextualização do setor e seus impactos, análises de entrevistas com CEOs, especialistas e, por fim, diretrizes práticas para o setor empresarial mitigar seus impactos ambientais e sociais e endereçar a mudança do clima.
Propostas para mitigar impactos no setor de Moda & Têxtil
A produção do Caderno de Moda & Têxtil tem a parceria técnica da Latin American Climate Lawyers Initiative for Mobilizing Action (LACLIMA), o Grupo Malwee e a Live! como empresas colíderes e o apoio da Azzas 2154, C&A, Capricórnio Têxtil, Pernambucanas e Riachuelo. A publicação destaca que a mudança do clima tem relação dupla com o setor, já que ao mesmo tempo em que suas atividades contribuem de maneira significativa para o agravamento da situação climática, respondendo por cerca de 8% a 10% das emissões globais de carbono, a mudança do clima também pode impactá-lo profundamente em múltiplos níveis, afetando tanto a produção quanto o consumo.
Durante as entrevistas com representantes do setor, a publicação levantou diversas iniciativas em andamento para mitigar seus impactos ambientais e endereçar a mudança do clima, incluindo tecnologias para o reaproveitamento de materiais, redução do uso de água e o desenvolvimento de infraestruturas resilientes. No entanto, desafios como a falta de regulamentação e incentivos adequados ainda dificultam uma resposta mais coordenada e robusta.
Entre as iniciativas de adaptação e resiliência do setor de Moda & Têxtil estão, por exemplo, a redução de resíduos e o incentivo ao reparo e reaproveitamento de peças; produção circular, com reaproveitamento de materiais e o desenvolvimento de tecnologias que permitem a criação de novas peças com até 85% de fibras reaproveitadas; a diminuição do consumo de água; o rastreamento, a diversificação e o engajamento ativo com a cadeia de fornecimento; auditorias, matrizes de materialidade e análises de riscos para identificar as áreas mais vulneráveis e definir metas internas mais ambiciosas e alinhadas com a ciência do clima.
Ligado diretamente a oportunidades de justiça climática, o documento propõe, entre outras iniciativas, desenvolver políticas e estratégias voltadas para os grupos mais vulnerabilizados dentro do ecossistema do setor, com formalização de postos de trabalho e criação de programas de capacitação e desenvolvimento de lideranças femininas, historicamente marginalizadas.
Impactos das mudanças climáticas na Saúde
Produzido em parceria técnica da Latin American Climate Lawyers Initiative for Mobilizing Action (LACLIMA) e o apoio da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein e da Beneficiência Portuguesa, o Caderno de Justiça Climática e Saúde explora temas como os efeitos da crise climática na saúde pública e o papel que o setor pode desempenhar na promoção de resiliência e equidade.
Com cerca de 5% das emissões globais de gases de efeito estufa, é urgente que o setor adote tecnologias mais sustentáveis e práticas de mitigação, aponta o estudo. Por outro lado, a mudança do clima já está intensificando doenças cardiorrespiratórias, alérgicas e transmitidas por vetores. E o aumento da frequência de eventos extremos, como ondas de calor e inundações, pressionam os sistemas de saúde e afetam desproporcionalmente comunidades vulnerabilizadas.
Durante as entrevistas para a produção do projeto, C-Levels e especialistas indicaram que o setor deve assumir o papel central na redução das próprias emissões de gases de efeito estufa, alinhando as operações com metas científicas globais e adotando práticas que reduzam os impactos ambientais. Além disso, o setor ressalta que garantir a prestação continuada de serviços essenciais diante de um cenário de crescentes impactos climáticos requer uma série de medidas estratégicas e preparação para eventos extremos.
“O setor de saúde, por fim, também reconhece seu papel na liderança pela mobilização e conscientização sobre os impactos da mudança do clima sobre a vida das pessoas. Sendo uma das áreas mais afetadas, tem a grande responsabilidade de usar sua influência para informar e educar o público e os outros setores sobre as consequências da mudança do clima para a saúde global”, destaca o estudo.
De acordo com as respostas coletadas, para enfrentar os desafios impostos pela mudança do clima, o setor de saúde deve explorar uma série de ações estratégicas e inovadoras para fortalecer a resiliência e promover a sustentabilidade, como atuar em conjunto com o governo para a criação de políticas públicas que incentivem a adoção de práticas sustentáveis; investir em pesquisa e desenvolvimento (P&D), a fim proporcionar alternativas mais efetivas e sustentáveis, ajudando a mitigar o impacto ambiental das operações de saúde e, ao mesmo tempo, melhorar a prestação dos serviços; priorizar a transferência de conhecimento para áreas assistenciais com menos recursos; adequar as infraestruturas para garantir que as instalações físicas sejam resilientes diante de eventos climáticos extremos; além de preparar as instituições para receber maior demanda por atendimentos relacionados a problemas de saúde exacerbados pela mudança do clima.