domingo, março 23, 2025

Em debate na FIESP, lideranças defendem integração de esforços públicos e privados contra a insegurança alimentar e nutricional na infância

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“A fome é uma escolha política, e temos que decidir, como sociedade, que ela é inaceitável”. O pronunciamento de abertura de Fernanda Mara Pacobahyba, presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), deu o tom do Seminário pelo Direito à uma Alimentação Saudável na Infância, evento do Programa Alimentar o Futuro – iniciativa conjunta do Conselho de Responsabilidade Social da FIESP, CIESP e SESI-SP – que aconteceu na última quinta-feira, dia 7 de novembro.

Sua fala encontrou eco no discurso do presidente da FIESP, Josué Gomes da Silva, que falou em seguida. “Ninguém aprende com déficit nutricional, e o meio empresarial pode contribuir com a causa. Senão por obrigação moral, então pelo fim econômico, porque as crianças serão futuros trabalhadores da indústria e consumidores dos produtos”, enfatizou.

A mesa de abertura ainda contou com pronunciamentos de Camila Kanashiro, Coordenadora de Segurança Alimentar representando a Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento de SP, e do Dr. Raul Cutait, presidente do Conselho Superior de Responsabilidade Social da FIESP (Consocial), que encabeça o Programa Alimentar o Futuro. “A fome gera déficit no desenvolvimento físico, cognitivo e emocional da criança, e isso interfere na educação, que vai interferir na produtividade no futuro. A fome está ligada a tudo”, afirmou.

Ele deu as boas-vindas à palestra magna de Úrsula Zacarias, consultora da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO-ONU), que apresentou um panorama do estado da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) no Brasil e reforçou a importância do evento para fortalecer os compromissos do Brasil com a Agenda 2030.

Abrindo as falas da primeira mesa de debate, o procurador regional dos Direitos do Cidadão, José Rubens Plates, discutiu o aspecto jurídico da SAN e trouxe dados atualizados. Luciana Phebo, chefe de Saúde e Nutrição do UNICEF no Brasil, trouxe um alerta sobre a tripla carga da desnutrição – a fome, a deficiência de nutrientes e a obesidade. “A deficiência de nutrientes é uma ameaça silenciosa, que está ligada à subnutrição, obesidade e doenças crônicas”.

Geyze Diniz, presidente do Conselho do Pacto Contra a Fome e conselheira do Consocial, trouxe a responsabilidade do setor privado de volta ao debate. “Nos acomodamos no lugar de pedir que os governantes exerçam suas funções, esquecendo nosso papel. Isso afeta a produtividade, é uma questão política e econômica”, provocou. Ela também mencionou a importância de integrar os dados para melhorar a distribuição e a assistência alimentar. “Precisamos nos unir – academia, terceiro setor, imprensa e setor privado – e compartilhar dados. Não podemos permitir que comida seja desperdiçada enquanto tantas pessoas passam fome”.

Na segunda mesa, moderada por Marcos Kisil, vice-presidente do Consocial, o debate seguiu focado nos impactos da alimentação no desenvolvimento infantil. O pediatra e nutrólogo Mauro Fisberg, coordenador do Centro de Excelência em Nutrição e Dificuldades Alimentares (CENDA) do Instituto Pensi, falou do impacto da alimentação desde os últimos meses de gestação até a fase pré-escolar, momento em que o cérebro infantil está se desenvolvendo. A palestra de Cintia Otoni, líder do Programa 1.000 Dias da Fundação Abrinq, veio ao encontro dos dados apresentados por Fisberg, trazendo as repercussões da desnutrição na saúde do adulto.

Por fim, a nutricionista Karina Viani, especialista em nutrição infantil e consultora do Programa Alimentar o Futuro, encerrou o painel apresentando obstáculos para construção de cardápios saudáveis nas escolas, como fatores econômicos e a cultura de que “criança gosta de doce”; e trouxe possíveis caminhos, que passam pelo exemplo dado em casa pelos pais e a adaptação de receitas para que se tornem econômicas e práticas.

Encerrando o evento, a conselheira Cida Raiz, do Consocial, chamou atenção para o aspecto de gênero e raça presente na questão da insegurança alimentar. “Cada etnia tem seus hábitos trazidos de herança genética e hereditária. O que faz bem para o genoma europeu não é o mesmo que faz bem para o africano. O letramento sobre o problema da fome é fundamental para que todos estejam na mesma página”.

Sobre o Programa Alimentar o Futuro

Com foco em crianças de 0 a 10 anos no Estado de São Paulo, o Programa Alimentar o Futuro atua como catalizador inicialmente nos municípios do projeto piloto, que contempla as regiões de Araraquara e Vale do Ribeira, trabalhando para integrar o setor industrial, a sociedade civil e o poder público na implementação de políticas públicas voltadas à Segurança Alimentar e Nutricional.

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