O economista ambiental do Banco Mundial Arno Behrens participou, nesta quinta-feira (7), do Brazilian Circular Hotspot, evento que reúne, em Recife (PE), autoridades, pesquisadores e líderes empresariais para debater a transição para a economia circular. Em sua fala, o coautor do relatório ‘Squaring the Circle: Policies from Europe’s Circular Economy Transition’ destacou que é papel dos bancos multilaterais financiar ações de circularidade e que políticas de economia circular são complementares às políticas de combate às mudanças climáticas.
“ Não faz sentido que o tema das mudanças climáticas esteja na mente de todos, mas o da economia circular nem tanto. Políticas de economia circular são essenciais para atingir metas climáticas. Elas podem contribuir para reduções adicionais das emissões de CO2 provenientes da queima de combustíveis fósseis em mais de 7% até 2030”, declarou Behrens.
Arno Behrens atua na Prática Global de Meio Ambiente, Recursos Naturais e Economia Azul da região da Europa e Ásia Central (ECA), do Banco Mundial. O economista é autor de relatórios nacionais sobre economia circular na região ECA, além do livro “O papel dos negócios na economia circular”. Behrens possui mais de 20 anos de experiência em temas de crescimento verde, combate às mudanças climáticas e transição energética, tendo passado por instituições como o PNUD e a Comissão Europeia. Também foi Chefe de Energia e Recursos Sustentáveis no Centro de Estudos de Políticas Europeias (CEPS).
Na apresentação no Brazilian Circular Hotspot, que é promovido pelo Instituto Brasileiro de Economia Circular (Ibec), o representante do Banco Mundial compartilhou dados que mostram que, atualmente, há a extração de mais de 105 bilhões de toneladas de materiais por ano para alimentar a economia. Behrens convidou o público a refletir que, durante sua fala de trinta minutos, seriam 6 milhões de toneladas extraídas, o equivalente a encher 300 mil caminhões.
“As 1 bilhão de pessoas mais ricas do planeta consomem cerca de 72% dos recursos extraídos mundialmente. Já a parcela de 1 bilhão de pessoas mais pobres consome menos de 1%. Quem é responsável pela crise ambiental que enfrentamos e quem sofre as consequências? Sabemos que são os pobres que sofrem mais. Esse precisa ser um problema considerado por instituições como o Banco Mundial”, destacou.
Um ponto levantado pelo economista foi o fato de que, por mais que o conceito da economia circular seja bom e decisivo, é algo que não está sendo implementado em larga escala ainda. Ele explica que isso se deve à complexidade e aos custos envolvidos no processo de uma mudança sistemática, demandando investimentos massivos e geração de novos postos de trabalho na cadeia.
“Os bancos têm que garantir que o aspecto da circularidade esteja integrado nos projetos. É preciso estender a vida útil dos produtos, mas muitas empresas dependem de suporte financeiro para isso. A economia circular deve vir desde o design do produto, com o intuito de reduzir a geração de resíduos.
Economia circular: da Europa para o mundo
A Europa foi pioneira no incentivo a políticas públicas e planos de ação focados em economia circular. O relatório ‘Squaring the Circle: Policies from Europe’s Circular Economy Transition’, do Banco Mundial, traz os principais aprendizados dos primeiros anos de transição, com o objetivo não só de expandir o novo modelo econômico na região, mas de identificar oportunidades que podem ser replicadas em diversos países.
Um dos aprendizados mencionados por Arno Behrens é que a economia circular vai ser conduzida, majoritariamente, pelo setor privado, mas ainda é um nicho entre as empresas; estima-se que a porcentagem de companhias que já estão mudando seus processos produtivos e valores está entre 5% e 10%, de forma que 90% das empresas seguem operando de forma linear.
Além disso, o economista defende que um dos meios de incentivo à economia circular é a reestruturação do sistema de taxação sob materiais e produtos circulares:
Em estudos feitos para a Europa, o Banco Mundial concluiu que uma série de iniciativas pode levar à redução de 8 a 11% no uso de materiais até 2030. Isso vem com um custo, é um modelo que reduz em 1% o produto interno bruto. Entretanto, vimos que uma reestruturação da taxação dos impostos sobre a folha de pagamento seria o suficiente para eliminar as perdas no PIB. Políticas de economia circular podem representar ganhos além dos econômicos, e incentivos são essenciais para fazer isso acontecer.
Arno Behrens também citou que não basta que os membros da União Europeia reduzam o uso de recursos naturais se, para isso, vão precisar reduzir as importações de produtos vindos de países em desenvolvimento, podendo comprometer a economia desses países. Segundo ele, é fundamental que haja incentivos para que os países emergentes também se tornem circulares, com o apoio dos bancos multilaterais e a possibilidade de expandir, a nível global, a exportação de produtos reciclados, por exemplo.