segunda-feira, outubro 21, 2024

Programa Aproxima quer construir um futuro mais inclusivo na arquitetura brasileira

Compartilhar

Em resposta aos desafios persistentes de representatividade e inclusão racial no setor de arquitetura brasileiro, o Programa Aproxima quer transformar o cenário atual ao oferecer oportunidades abrangentes para estudantes pretos, pardos e indígenas de arquitetura.

Originalmente desenvolvido como um projeto interno do escritório de arquitetura FGMF, o programa expandiu-se e foi reestruturado para incluir uma variedade de participantes. Atualmente, é administrado por uma associação sem fins lucrativos. Hoje, conta com a adesão de mais de 17 escritórios de arquitetura, incluindo Andrade Morettin, Studio MK27, Bernardes, Superlimão, Estúdio Guto Requena, Jacobsen, Felipe Hess Arquitetos, Perkins&Will e Architects Office, entre outros. Além dos escritórios, participam empresas que contratam arquitetos, como Nortis, Novidário, Osborn e ,Ovo.

O Programa Aproxima é sustentado por uma rede de colaboradores comprometidos com a causa da inclusão. Empresas como Ornare, Gabriel Pro, Nortis e Urbem estão entre os patrocinadores da Associação Aproxima. O programa conta também com diversos parceiros que disponibilizam cursos gratuitos ou com desconto para que os alunos possam reforçar seu currículo e se posicionar no mercado de maneira competitiva. Os cursos e plataformas educativas TODOS LAB, Cura, SPBIM, Eixo, Ycon, Club&Casa e Uni-CTE estão disponíveis na biblioteca do programa para todos os inscritos.

O Aproxima foi criado por Caroline Martins, que trabalha na gestão de pessoas no FGMF há 11 anos, com co-criação de Lourenço Gimenes, arquiteto e sócio da FGMF e Fernando Mungioli, publisher da Revista PROJETO.

“Esse projeto começou a ser estruturado há mais ou menos dois anos. Com o tempo, conforme o programa foi crescendo, entendemos que havia a possibilidade de expandir, envolvendo outros escritórios e empresas do setor para criar um impacto real. Hoje, não é mais um programa da FGMF e sim da arquitetura como um todo; montamos uma associação sem fins lucrativos e contamos com o patrocínio, apoio e participação de inúmeras empresas,” conta Caroline, cocriadora e presidente da Associação Aproxima.

Com 25 estudantes já recolocados em agosto e expectativa de recrutamento de 50 novos estudantes no próximo semestre, o Programa Aproxima visa não apenas transformar a realidade atual do setor, mas também estabelecer um modelo replicável e escalável para a inclusão étnico-racial em outras áreas profissionais. A associação sem fins lucrativos, fundada para coordenar o programa, conta com um conselho majoritariamente negro e está comprometida com a expansão contínua do projeto. No futuro, outros programas de promoção da diversidade serão desenvolvidos.

“Esse é um projeto que queremos construir de forma horizontal com todos os parceiros. O Conselho da Associação Aproxima é majoritariamente negro e inclui nomes como Michele Salles, Diretora de Diversidade, Equidade, Inclusão e Saúde Mental na América do Sul na Ambev, Vitor del Rey, presidente do Instituto Guetto, e Alexandre Salles, coordenador do IED, além das arquitetas Tainã Dorea, docente de Arquitetura no Senac Lapa Tito e suplente de conselheira no CAU/SP, Audrey Carolini, docente assistente na Associação Escola da Cidade e professora no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, e os três fundadores, Caroline, Lourenço Gimenes e Fernando Mungioli. O projeto já avançou bastante, e as primeiras vagas de estágio se iniciaram em agosto, mas ainda há muito para construir e essa construção precisa ser feita de forma coletiva,” enfatiza Lourenço Gimenes, sócio da FGMF.

O que é o Programa Aproxima?

O Programa Aproxima é uma iniciativa de estágio rotativo destinada a alunos pretos, pardos e indígenas do segundo a quarto ano dos cursos de arquitetura, apoiada por empresas e instituições parceiras do setor. Estruturado em parceria com escritórios de arquitetura, indústrias, incorporadoras, construtoras e o setor público, o programa oferece uma plataforma para capacitação, desenvolvimento cultural e inserção competitiva no mercado de trabalho. A ideia é que os alunos, ainda no início da sua formação, tenham a oportunidade de construir um currículo mais rico através dos cursos e das experiências práticas em diversas empresas do setor. Mais do que treinar arquitetos projetistas, o Aproxima quer mostrar as diversas possibilidades do mercado para que os alunos possam enxergar seu potencial.

Processo Seletivo e Estrutura

Os alunos inscritos serão alocados nas vagas disponíveis por sorteio. O estágio rotativo pode durar de 1 a 3 semestres. As empresas participantes passarão por um processo de letramento, no qual terão a possibilidade de não apenas entender melhor as questões relacionadas ao racismo, mas também amadurecer seus processos internos para tornar a jornada desses estudantes mais inclusiva. No futuro, a Associação Aproxima também desenvolverá programas complementares: o programa Efetiva, destinado a alunos do quarto e quinto ano, e o programa Lideranças Negras.

A associação captou junto aos patrocinadores iniciais um valor para os serviços necessários e contratação de equipe mínima para operação. No longo prazo, a manutenção do funcionamento dependerá de captações de patrocínio. O projeto determina uma bolsa mínima de R$ 1.550,00 por mês para cada estudante, além de um seguro de vida padrão de R$ 74,00 por ano, vale-refeição e vale-transporte, totalizando em média R$800 por mês. Isso resulta em aproximadamente R$ 2.300,00 a ser recebido diretamente por cada estudante. As empresas que abrem vagas não pagam nada à Associação, que é custeada unicamente pelos patrocinadores.

O Mercado Hoje

Dados recentes do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil revelam disparidades alarmantes: apenas 4,33% dos profissionais autodeclarados são negros, enquanto a maioria branca representa 78,14%. Essa realidade reflete uma estrutura desigual que o Programa Aproxima busca enfrentar diretamente, proporcionando estágios competitivos e valiosas experiências profissionais aos estudantes.

Um levantamento do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR) em 2020 mostra que apenas 4,33% dos arquitetos e urbanistas se autodeclaram negros, enquanto 78,14% são brancos. Além disso, 27% dos arquitetos e urbanistas desempregados são mulheres negras, que sofrem 16 vezes mais assédio sexual no ambiente de trabalho e têm um rendimento salarial de R$ 3.436,15, quase a metade do que um homem branco ganha.

Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) revelam que, em quatro estados do país, o curso de Arquitetura e Urbanismo possui menor Índice de Inclusão Racial que Direito, Medicina e Psicologia. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), estudantes brancos representam 83,9% nos cursos de Arquitetura.

Com a colaboração de diversos parceiros e o empenho de sua equipe, o Aproxima busca transformar a realidade do setor de arquitetura no Brasil, promovendo a diversidade e inclusão étnico-racial de forma efetiva e duradoura.

Leia Mais

Outras Notícias