segunda-feira, outubro 21, 2024

Festivais sustentáveis: é hora de subir o tom pelo planeta

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O setor de festivais passa por um momento crucial na adoção de práticas ambientalmente sustentáveis. Segundo o relatório “More Than Music”, realizado pela agência de impacto sustentável Betternotstop, 46% dos festivais de música no Reino Unido já possuem uma política de sustentabilidade e 31% adotam medidas para reduzir a emissão de carbono. Embora esses números mostrem avanços e sirvam de referência para o mundo todo, ainda há muito a ser feito.

A locomoção do público para os festivais, sobretudo por meio do transporte público e de automóveis particulares, é responsável pela emissão de um grande volume de carbono e continua sendo o maior desafio ambiental no setor. Soluções como a substituição da frota do transporte público por veículos híbridos e elétricos tornaram-se essenciais.

Além disso, segundo um estudo da Brighton University com base em grandes festivais de música realizados fora do Brasil, os resíduos gerados pelos acampamentos montados pelos fãs (que representam até 80% do lixo produzido nesse tipo de evento, mais comum nos Estados Unidos e na Europa) e o consumo de energia elétrica são outras questões críticas. Esses grandes festivais podem consumir até 30.000 megawatts de eletricidade em um fim de semana, levando à necessidade urgente de implementar fontes alternativas de energia e tecnologias mais eficientes – uma preocupação que também vale para o contexto brasileiro.

Programas como o Cultura Circular, promovido pelo British Council, são exemplos de iniciativas que impulsionam a adoção de práticas sustentáveis nos festivais. Com o objetivo de mitigar os impactos ambientais e incorporar soluções ecoeficientes, a iniciativa oferece suporte financeiro e treinamento para festivais na América Latina.

Desde 2021, foram mais de 65 festivais beneficiados na região, promovendo uma transformação sustentável e inclusiva no setor cultural. Em 2024, o número de inscrições cresceu 10%, mostrando um aumento no compromisso com a sustentabilidade no setor.

A edição deste ano contabilizou 40 festivais selecionados na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Jamaica, México, Peru, Trinidad e Tobago e Venezuela. O valor total do investimento disponível para esses festivais na América Latina equivale a aproximadamente R$ 2,5 milhões. Mas para além de recursos financeiros, o programa oferece um treinamento de melhores práticas sustentáveis com especialistas britânicos, a fim de aumentar o compromisso dos organizadores.

No Brasil, foram selecionados em 2024 os festivais Feira Preta, Favela Sounds, Meeting of Favela, Kino Beat, Baguncinha, Se Rasgum, CoMA e Latinidades. Cada um receberá até cerca de R$ 140 mil para promover a interculturalidade no desenvolvimento de ações em benefício do meio ambiente.

A sustentabilidade deixou de ser um tema periférico e hoje precisa ocupar o centro da organização de eventos culturais. Práticas sustentáveis não só melhoram a reputação dos festivais, mas também demonstram um compromisso concreto com o futuro do planeta. É necessário intensificar esses esforços para que todos os festivais estejam alinhados com os objetivos ambientais globais.

Rafael Ferraz, head de Artes do British Council Brasil.

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