Em um contexto de recessão econômica, inflação e insegurança alimentar global, as tecnologias de embalagens ganham destaque por sua capacidade de prolongar a validade dos produtos, reduzir desperdícios e facilitar o transporte. A escassez de alimentos atinge mais de 440 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo que 250 milhões estão à beira da inanição. Segundo dados da The Economist, a guerra na Europa pode elevar esse número para 1,6 bilhão de pessoas. Nesse cenário, tecnologias que preservam alimentos e maximizam sua distribuição são um caminho assertivo para minimizar o impacto da crise alimentar.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o mundo desperdiça cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos ou um terço do que é produzido globalmente. Somente no Brasil, as perdas anuais chegam perto de 46 milhões de toneladas, o que seria suficiente para alimentar pelo menos 46 milhões de pessoas por um ano, bem mais do que os 33 milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar contabilizadas pela ONU.
Já a pesquisa “O Alimento que Jogamos Fora – Causas, Consequências e Soluções para uma Prática Insustentável”, da plataforma MindMiners em parceria com a Nestlé, aponta que para 85% das pessoas entrevistadas, combater o desperdício de alimentos no Brasil é importante. 82% das pessoas jogam alimentos fora em algum grau, no entanto a maioria significativa demonstrou ser muito consciente em relação à ocorrência. Somente 13% responderam que descartam sempre ou frequentemente. Em contraponto, de acordo com a pesquisa, 90% do desperdício acontece na cadeia produtiva., estatística que pode ser revertida com a embalagem adequada dos produtos.
O avanço da tecnologia vem possibilitando soluções cada vez mais inovadoras para prolongar a vida útil dos alimentos, com barreiras que protegem o conteúdo contra fatores externos como oxigênio, luz, gases e umidade. Outra inovação no setor é a “embalagem inteligente”, que vem equipada com sensores capazes de monitorar as condições dos produtos, bem como a temperatura de armazenamento. Apesar de ainda ser uma tecnologia iniciante no Brasil, a embalagem inteligente tem o potencial de revolucionar a segurança alimentar ao evitar perdas e garantir que os consumidores adquiram produtos de qualidade.
Vale ressaltar que o desperdício de alimentos é responsável por 8% das emissões de gases de efeito estufa, segundo a ONU. Nesse sentido, embalar comida de forma adequada assegura a redução no lixo orgânico e a descarbonização do planeta, seguindo as metas da COP21.
Sustentabilidade
Outro aspecto relevante das embalagens modernas é a sua contribuição para a sustentabilidade. A embalagem desempenha um papel importante na logística de transporte, pois, quando bem desenvolvida, pode reduzir perdas durante o trajeto até o consumidor. Além disso, embalagens circulares, que reduzem o impacto ambiental e a pegada de carbono da indústria, são cada vez mais valorizadas no combate às mudanças climáticas.
As tecnologias de embalagem desempenham um papel central na preservação de alimentos e medicamentos, ajudando a reduzir o desperdício. Num momento em que a fome e as crises sanitárias afetam milhões de pessoas, as embalagens emergem como ferramentas essenciais para garantir o acesso a alimentos seguros e de qualidade, contribuindo para um futuro mais justo e sustentável.
Essas inovações prolongam a vida útil dos produtos e também demonstram o potencial das embalagens de transformar positivamente a sociedade.
Assunta Camilo, Diretora do Instituto de Embalagens.
