O Summit of the Future que acaba de acontecer na sede da ONU, em Nova Iorque, destacou a urgência de reverter o atraso nas metas estabelecidas pelas nações até 2030, mas pessoalmente tinha mais expectativa de ver e ouvir sobre ações para preparar o mundo feito de uma população cada vez mais longeva. A ambiciosa missão de discutir soluções globais para desafios contemporâneos, incluindo saúde, pobreza e tecnologia, trouxe a público os três documentos elaborados por 18 meses — Pact for the Future, Declaração sobre as Futuras Gerações e Digital Global Compact.
Embora os documentos tenham abordado importantes questões mundiais, o tema sobre impacto do envelhecimento populacional global e a necessidade de uma preparação concreta para um futuro mais longevo das populações ficou mais discreto.
A longevidade mundial é uma questão além da saúde como vem sendo tratada. É uma transformação demográfica que afeta todas as esferas da sociedade, a economia, a educação e as políticas públicas. No entanto, o debate sobre o envelhecimento populacional ainda permanece linkado apenas a questões de saúde. Esperamos que em breve possa ocupar a parte central das agendas políticas globais.
A sensação é de que o Summit poderia ter aproveitado melhor o encontro para os que aguardam avanços no tema longevidade. Embora tenha sido destacada a importância da sustentabilidade e da desigualdade social, ficou tímida a discussão sobre a transformação que o envelhecimento global já começa a demandar, com desafios inéditos para os sistemas de saúde, previdência e mercado de trabalho.
Que os próximos palcos da ONU tragam mais luz para as políticas públicas globais a serem desenvolvidas para atender à população madura em crescimento. Caso contrário, vamos “empurrar e transferir” a responsabilidade do futuro dos longevos para os jovens, que herdarão um mundo para o qual não estão sendo devidamente preparados.
As nações precisam começar a atuar e desenvolver estratégias que garantam o bem-estar da população idosa sem sobrecarregar as gerações mais jovens. Até porque, algumas nações já convivem com a realidade de ter uma população idosa maior que a jovem. Aqui no Brasil, segundo dados do IBGE, em 2043, um quarto da população deverá ter mais de 60 anos, enquanto a proporção de jovens até 14 anos será de apenas 16,3%.
Que as novas pautas tragam temas como a reforma dos sistemas previdenciários, a necessidade de repensar o mercado de trabalho para utilizar trabalhadores pessoas mais velhas, e a urgência de desenvolver infraestruturas urbanas acessíveis e inclusivas. A discussão deverá sair do limite de como podemos cuidar melhor dos idosos em termos de saúde, mas se tornar mais abrangente, incluindo ações para garantir que essa população permaneça integrada à sociedade de maneira ativa, produtiva e digna.
O evento também mostrou o papel da inteligência artificial (IA) em várias áreas, principalmente seu potencial de transformar os cuidados à saúde, permitindo diagnósticos mais rápidos e precisos, além de criar soluções para o monitoramento remoto e o cuidado personalizado.
A tecnologia precisa ser acompanhada de políticas que incentivem o uso da IA para garantir que a longevidade não seja apenas uma questão de viver mais, mas de viver melhor. O aumento da longevidade mundial precisa estar mais latente em debates globais. Não podemos mais deixar a responsabilidade sobre os ombros dos jovens, os futuros longevos. É necessário um compromisso global para discutir o envelhecimento. Afinal, a longevidade impacta todos nós e o futuro precisa ser planejado hoje.
Juliana Ramalho, CEO da Talento Sênior.