O conceito da sustentabilidade como conhecemos hoje, responsável por orientar e ressignificar as boas práticas de muitos negócios pautados por uma agenda ESG, pode ser considerado um verdadeiro avanço, especialmente se compararmos o atual cenário com as iniciativas precursoras de 50 anos atrás. Se durante a década de 70 olhava-se apenas para a conservação ambiental e somente os negócios mais disruptivos direcionavam esforços para essas frentes, ser sustentável se tornou essencial para o futuro do planeta e da humanidade.
É certo que nessa jornada cada um tem sua responsabilidade e assume um papel importante para preservação e regeneração dos meios – incluindo governos, comunidades e indivíduos – no entanto, é com as empresas que essa conversa se torna mais profunda e ganha poder de escala. Afinal, elas podem impactar positivamente o meio ambiente, a sociedade e a economia por meio de suas operações, produtos e práticas de governança.
Além dos benefícios ao planeta, nos últimos anos, adotar uma abordagem sustentável passou a trazer vantagens competitivas às empresas, como a maior eficiência operacional, atração e retenção de talentos, favorecimento a imagem da marca, alinhamento com as expectativas dos consumidores e stakeholders, contribuição ativa na economia circular, além do fortalecimento da marca no mercado.
Para esses últimos, inclusive, o crescimento econômico e a maximização do lucro passaram a caminhar lado a lado com práticas sustentáveis; investidores não questionam mais “se” o negócio abraça a sustentabilidade para depositarem seu capital e sua confiança, e sim, “quais iniciativas” são adotadas, capazes de justificar o propósito do negócio e o direcionamento dos aportes aos fundos de investimento.
Sustentabilidade na prática
Representando uma recorrente oportunidade para a inovação, encaramos a sustentabilidade não apenas como uma questão ética ou de responsabilidade social. A sustentabilidade, para nós, é parte fundamental da nossa visão corporativa, dos nossos valores e direciona nossas estratégias de forma inteligente. Assumimos metas ambiciosas para 2030 que envolvem desde a redução do impacto ambiental em nossas operações e cadeia de fornecimento para um futuro net zero, assim como a promoção de impactos sociais positivos, promovendo a economia circular ao mesmo tempo que melhoramos a vida das pessoas e comunidades que fazem parte de toda a nossa cadeia de valor.
Para alcançar esses objetivos, não temos medido esforços para a implementação e avanço de tecnologias em soluções que permitam a reciclabilidade, o aumento da vida útil dos materiais, a redução dos desperdícios e o aumento do conteúdo reciclável adicionado ao desenvolvimento dos produtos.
Um dos exemplos das inúmeras iniciativas que temos para fomentar a sustentabilidade entre todos os elos da cadeia é o AD Circular, programa que facilita a integração entre recicladores homologados e geradores de resíduos dos materiais autoadesivos, transformando entre novos produtos. Já consolidado de forma global e com mais de 130 empresas participantes somente no Brasil, o programa passa por transformações tecnológicas todos os anos para torná-lo, ainda mais, educativo e integrado com toda a cadeia.
Tendências em sustentabilidade corporativa: o que esperar do futuro
Embora não exista uma previsão exata de como este cenário será nos próximos anos, já que a sustentabilidade é uma questão complexa e em constante evolução, uma das mudanças mais relevantes é a crescente consciência do impacto ambiental da atividade humana. Esta conscientização vem sendo impulsionada por diferentes fatores, incluindo as alterações climáticas, o esgotamento dos recursos e a poluição dos meios. À medida que as pessoas se tornam mais conscientes do impacto ambiental das suas escolhas, é provável que continuem a exigir produtos e serviços mais sustentáveis.
Em contrapartida, os negócios regenerativos, preocupados em restaurar e revitalizar os ecossistemas, devem nascer ou repensar suas operações para se readequarem às novas demandas e realidades. O conceito de lucro social estará muito mais integrado aos negócios; e as empresas que focam em gerar impacto positivo, tanto ambiental quanto social, serão preferidas por consumidores e investidores.
Outra tendência importante é o desenvolvimento de novas tecnologias que podem nos ajudar a viver de forma mais sustentável, incluindo a popularização das fontes de energia renováveis, aparelhos com eficiência energética e materiais amigáveis ao planeta. À medida que estas tecnologias se tornam mais econômicas e acessíveis, é provável que sejam adotadas por mais pessoas e empresas.
Ainda sobre esse aspecto, espera-se que os governos desempenhem um papel mais ativo na promoção da sustentabilidade, podendo incluir a definição de regulamentações ambientais mais rigorosas, o investimento em energias renováveis e a ampliação de incentivos para que empresas e indivíduos adotem tais práticas.
Dentro de algumas décadas, a sustentabilidade não deverá ser mais uma vantagem competitiva ou uma preocupação periférica, mas sim a essência dos negócios, de modo que as contribuições à sociedade irão redefinir o papel das corporações no mundo e serão fatores-chave para a avaliação do sucesso dessas operações.
Camila Benedetti Crawford, Diretora de R&D, Sustentabilidade e DE&I da Avery Dennison na América Latina.