Recentemente, um comentário negativo proferido pelo ex-CEO de uma escola de negócios reacendeu o debate sobre a representatividade feminina em posições de liderança. Essa declaração não apenas expôs questões ainda presentes no ambiente corporativo, mas também ressaltou a urgência de discutirmos a importância de mulheres em cargos de decisão. É fundamental que usemos essa oportunidade para destacar os benefícios que a diversidade de gênero traz para o mercado, contribuindo para um ambiente mais inclusivo.
Não cabe mais esse tipo de declaração quando nos dias atuais temos tantas referências de mulheres líderes que estão imprimindo a sua marca em grandes corporações. Ainda assim, ressalto o 10º relatório da Women in the Workplace, uma parceria da McKinsey&Company com a LeanIn.Org, que foi realizado recentemente nos Estados Unidos. Embora as mulheres hoje representem 29% das posições de C-suite, em comparação com apenas 17% em 2015, ainda há um longo caminho a ser percorrido.
Ainda segundo o estudo, as mulheres continuam enfrentando barreiras no início da trajetória profissional. Elas ainda são menos propensas que os homens a serem contratadas para cargos de entrada, o que as deixam subrepresentadas desde o começo. Depois, as mulheres têm muito menos chances que os homens de conseguir sua primeira promoção para um cargo de gerente — uma situação que não está melhorando. Em 2018, para cada 100 homens que receberam sua primeira promoção a gerente, 79 mulheres foram promovidas; este ano, apenas 81 mulheres foram. Devido a esse “degrau quebrado” na escada corporativa, os homens superam significativamente as mulheres no nível de gerência, tornando incrivelmente difícil para as empresas sustentarem o progresso em níveis mais altos. Esse fenômeno é ainda pior para mulheres não-brancas, que representam apenas 7% das atuais posições de C-suite — um aumento de apenas quatro pontos percentuais desde 2017.
Quando cursei a faculdade de Engenharia, senti na pele essa realidade. Eram comuns as brincadeiras entre meus colegas, como “Dona Maria, volte para a cozinha!” e apenas duas mulheres se formaram engenheiras naquele período. Eu sou uma delas. Desde nova, aprendi a batalhar pelo que quero e a importância do trabalho em equipe, com homens e mulheres juntos. Para conquistar resultados, devemos valorizar o potencial de cada um, independentemente de gênero.
Essa situação não será transformada da noite para o dia, mas podemos e devemos começar a desmantelar as barreiras existentes. A conversa sobre a importância da presença feminina em cargos de liderança deve ser contínua e envolvente, abrangendo todos os níveis da organização. É fundamental que todos, independentemente de gênero, se unam nessa luta por um ambiente de trabalho mais justo e equitativo.
O comentário do ex-CEO nos mostra que a luta pela igualdade de gênero ainda está longe de ser vencida. Contudo, também nos oferece uma oportunidade valiosa para reforçar a importância de termos mulheres em cargos de liderança. Promover a diversidade de gênero não é apenas uma questão ética, mas uma estratégia inteligente para um futuro mais inovador e próspero. É hora de transformar as palavras em ações e trabalhar coletivamente para derrubar as barreiras que ainda limitam o potencial das mulheres no mercado de trabalho.
Thais Marca, membro do Conselho do Instituto MEO (Mulheres em Operações).