As cidades inteligentes e verdes (ou smart green cities) podem ser uma resposta inovadora e essencial para enfrentar os desafios contemporâneos de urbanização, mudanças climáticas e desigualdade social. Elas combinam tecnologia e sustentabilidade para otimizar o uso de recursos, melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e reduzir o impacto ambiental. A transformação para esse modelo de cidade não é apenas uma tendência, mas uma necessidade diante da degradação ambiental e do crescimento populacional.
A importância desse modelo de cidade na preservação do meio ambiente é evidente. De acordo com o Relatório Mundial das Cidades 2022, publicado pelo ONU-Habitat, até 2050, cerca de 68% da população mundial viverá em áreas urbanas. Isso coloca uma enorme pressão sobre os recursos naturais e exige um novo modelo de desenvolvimento urbano, capaz de reduzir a pegada ecológica e promover o uso responsável dos recursos. Consciente desses desafios, a mesma ONU-Habitat preconiza em sua Nova Agenda Urbana, o compromisso com “uma abordagem de cidade inteligente, que faça uso de oportunidades de digitalização, energia e tecnologias limpas, assim como tecnologias de transporte inovadoras, consequentemente proporcionando alternativas para os habitantes fazerem escolhas mais adequadas ao meio ambiente e impulsionarem o crescimento econômico sustentável e permitindo que as cidades melhorem sua prestação de serviços.”(HABITAT III, 2017, p.18).
Um dos pilares centrais das cidades inteligentes verdes é a capacidade de, por meio de Internet das Coisas (IoT), Inteligência Artificial (IA) e Ciência de Dados, coletar e analisar dados em tempo real para tomar decisões mais bem informadas e eficazes. Isso vai desde a gestão de trânsito e controle de consumo energético até a promoção da economia circular, onde os resíduos são minimizados e reaproveitados.
Ao unir tecnologia e sustentabilidade, as cidades inteligentes verdes ajudam a mitigar os impactos ambientais ao promover a redução das emissões de carbono, estimulando o uso de fontes renováveis, como solar e eólica, e otimizando o consumo de energia com o uso de redes elétricas inteligentes (smart grids). No que se refere à mobilidade, além do fomento a adoção de sistema público com frota eletrificada, estímulo a ciclovias e veículos compartilhados, por exemplo, uma cidade inteligente verde pode otimizar constantemente as rotas com base em modelos preditivos e prescritivos que levem em conta não apenas o fluxo de passageiros, mas também as condições climáticas e os impactos socioambientais.
Em se tratando da gestão de resíduos, com o uso de sensores em lixeiras inteligentes, por exemplo, é possível identificar o tipo de material descartado e otimizar as rotas de coleta, reduzindo custos e aumentando a eficiência. Para facilitar a participação dos cidadãos, aplicativos podem fornecer informações sobre horários e locais de descarte, incentivando a separação correta dos resíduos. Essas plataformas permitem mapear a geração e o destino dos materiais, identificando gargalos e oportunidades de melhoria. Além disso, é possível monitorar indicadores como a quantidade de resíduos gerados, a taxa de reciclagem e a destinação final, auxiliando na tomada de decisões mais assertivas. Para promover o engajamento da população, essas plataformas também podem ser utilizadas para implementar campanhas de educação ambiental, jogos e desafios, incentivando a participação ativa dos cidadãos na gestão dos resíduos.
Outro setor que tem atraído forte atenção nas cidades inteligentes e verdes é o da agricultura urbana. Na chamada agricultura de precisão, sensores podem coletar dados em tempo real sobre diversos fatores como umidade do solo, temperatura, luminosidade e até mesmo a presença de pragas, fornecendo informações precisas sobre as condições de crescimento das plantas. Com a análise desses dados por algoritmos de IA, é possível identificar padrões, prever tendências e otimizar o uso de recursos como água e nutrientes, resultando em recomendações personalizadas para cada cultivo. Ademais, a previsão de rendimentos permite aos agricultores planejar suas atividades de forma mais eficiente, otimizando a produção e o seu escoamento. A rastreabilidade da produção, desde a fazenda até o consumidor, garantida por tecnologias de blockchain, garante a segurança alimentar e a transparência da cadeia de suprimentos. Ademais, para promover o engajamento da comunidade e a educação sobre as práticas agrícolas sustentáveis, a IA pode criar painéis interativos que visualizam dados sobre a saúde das culturas, o impacto ambiental e a cadeia de suprimentos. Além disso, chatbots e assistentes virtuais oferecem suporte personalizado e informações sobre agricultura orgânica.
Se a pauta ESG está cada vez mais em voga nas empresas e organizações, a sociedade brasileira ganharia muito se as cidades inteligentes, verdes e inclusivas entrassem nas agendas dos futuros prefeitos e vereadores. Bom voto!
Fernando Pinto, professor de Sistemas de Informação Gerenciais e doutor em Administração – Coppead/UFRJ
*Nova agenda urbana disponível em https://habitat3.org/wp-content/uploads/NUA-Portuguese-Brazil.pdf.