Em uma ação inédita durante o Summit of Future da ONU na Semana do Clima em Nova Iorque, um grupo de organizações não governamentais (ONGs) entregou uma carta à primeira-dama Rosângela Lula da Silva (Janja), endereçada aos ministros do governo brasileiro, destacando a importância da inclusão dos sistemas alimentares nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) do Brasil, que serão submetidas à ONU como parte do Acordo de Paris. O evento reúne executivos e representantes da sociedade civil de todo o mundo para discutir estratégias de mitigação e adaptação à crise climática.
A carta foi elaborada em conjunto pela Mercy For Animals (MFA), Humane Society International (HSI) e The Good Food Institute Brasil (GFI) e assinada por 33 organizações nacionais e internacionais, como a Proveg Brasil, Instituto Regenera, Instituto de Defesa de Consumidores, Instituto Comida do Amanhã, Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais pelo Meio Ambiente, ICLEI Brasil, Instituto Mapinguari, Sociedade Vegetariana Brasileira, WWF Brasil e outras organizações, e enfatiza que o Brasil pode assumir um importante papel de liderança climática ao integrar os sistemas alimentares em suas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) e adaptação. A carta traz dados que indicam que os sistemas alimentares são responsáveis por 74% das emissões de GEE no Brasil, associadas principalmente ao desmatamento provocado pela pecuária e monoculturas de grãos para ração animal.
“O Brasil tem uma oportunidade única de liderar pelo exemplo com uma NDC ambiciosa, demonstrando ao mundo como a transformação dos sistemas alimentares pode ser uma solução poderosa para enfrentar a crise climática, preservar a biodiversidade e impulsionar a economia”, afirmou Thayana Oliveira, Gerente Sênior de Políticas Alimentares na Humane Society International (HSI), presente na entrega da carta.
Na carta, as organizações parabenizam o Brasil por sua participação e liderança na Aliança dos Campeões para a Transformação dos Sistemas Alimentares, onde o país assumiu o compromisso de atualizar suas NDCs com ações relacionadas aos sistemas alimentares. Incluindo a redução de emissões de gases de efeito estufa por meio da promoção de mudanças alimentares e da aceleração da inovação nas políticas e investimentos, como na promoção de proteínas alternativas e na redução do desperdício de alimentos na cadeia produtiva.
A importância da transformação dos sistemas alimentares
Os sistemas alimentares globais são responsáveis por cerca de 1/3 das emissões de gases de efeito estufa, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC). No Brasil, o setor agropecuário é um dos principais responsáveis pelo desmatamento da Amazônia e do Cerrado, que juntos respondem por mais de 85% da área desmatada do país. As ONGs ressaltam que, sem mudanças significativas na produção e no consumo de alimentos, especialmente o consumo de produtos de origem animal, será impossível cumprir as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris.
“A transição para dietas mais sustentáveis, como as baseadas em vegetais, é uma das principais estratégias para mitigação das emissões, além de promover benefícios para a saúde pública e a preservação dos recursos naturais”, comentou Amelia Linn, Diretora de Política Global da Mercy For Animals.
A carta aos ministros brasileiros
Na carta endereçada à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ao ministro do Desenvolvimento Agrário, Luiz Paulo Teixeira, e ao ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, as ONGs destacam as oportunidades socioeconômicas que a transição alimentar pode trazer para o Brasil. De acordo com a Comissão Econômica dos Sistemas Alimentares (FSEC), a adoção de sistemas alimentares mais sustentáveis tem o potencial de economizar até US$200 bilhões por ano, associados à redução dos impactos ambientais, na saúde pública, além de aumentar a segurança alimentar.
O documento também parabeniza a decisão do Brasil em assinar, durante a COP 28, a Declaração dos Emirados Árabes Unidos sobre Agricultura Sustentável, Sistemas Alimentares Resilientes e Ação Climática e a Declaração dos Emirados Árabes Unidos sobre Clima e Saúde, que destacam a importância da integração dos sistemas alimentares nas metas climáticas, reconhecendo os benefícios das dietas sustentáveis para a saúde e o meio ambiente.