sexta-feira, setembro 20, 2024

Estudo inédito revela presença de resíduos plásticos em 100% do litoral brasileiro

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Todas as praias do Brasil têm presença significativa de micro e macrorresíduos plásticos, sendo 91% do material analisado composto por plásticos. A conclusão é da primeira expedição científica “Ondas Limpas na Estrada”, realizada pela Sea Shepherd Brasil, em parceria com a Odontoprev e com apoio técnico do Instituto Oceanográfico da USP. O estudo mapeou a poluição de 306 praias ao longo de 8 mil km em 17 estados litorâneos do país. Os resultados do estudo foram divulgados no SP Ocean Week, evento que vai até o dia 22 de setembro.

Nathalie Gil, presidente da Sea Shepherd Brasil, apresentou os resultados da expedição que foi feita a bordo do ônibus ‘Guardião da Costa’ e percorreu a costa brasileira por 16 meses. Foram 157 mil m² de praias analisadas – equivalente a 22 campos de futebol – e mais de 16 mil fragmentos de microplásticos e 72 mil macrorresíduos identificados, totalizando 2,3 toneladas de materiais coletados.

Gil destacou a urgência de repensar os atuais hábitos de produção, consumo e descarte de plásticos: “Precisamos promover uma economia circular, eliminando os plásticos descartáveis e intensificando políticas públicas de reciclagem. Dos resíduos coletados, 91% eram plásticos, muitos dos quais são recicláveis, mas não estão sendo adequadamente reutilizados.”

Um ponto preocupante e que foi amplamente discutido estava relacionado à poluição em Áreas de Proteção Ambiental (APA). As praias localizadas nestas regiões apresentaram o dobro de resíduos plásticos chamados de uso único (embalagens e descartáveis) em comparação com áreas não protegidas, evidenciando a necessidade de maior fiscalização e medidas preventivas. “Mesmo nas unidades de conservação, a limpeza regular muitas vezes não é realizada. Precisamos estabelecer parcerias para monitorar e combater a poluição de forma mais eficaz”, explicou Alexander Turra, professor do Instituto Oceanográfico da USP.

Os dados regionais mostram a real dimensão do problema: a região Sul apresenta a maior concentração de microplásticos, afetando 95% das praias, enquanto Sudeste e Sul estão empatados na presença de macrorresíduos. O estudo também destaca o Rio Grande do Norte com três das cinco cidades mais poluídas por macrorresíduos. Entre os casos mais críticos, Pântano do Sul, em Florianópolis, é a praia mais poluída do Brasil, com 17 resíduos e 144 partículas de microplástico por metro quadrado. São Vicente, em São Paulo, lidera em concentração de resíduos, com 10 resíduos por metro quadrado.

Os resíduos plásticos não só poluem as praias, mas também afetam gravemente a vida marinha, prejudicando espécies que ingerem microplásticos ou ficam presas em resíduos maiores. Isso causa danos irreversíveis aos ecossistemas costeiros e reforça a necessidade de ações conjuntas entre governos, sociedade civil e empresas, como a Odontoprev, que apoia projetos de preservação ambiental como parte de sua estratégia de responsabilidade social.

“O papel da iniciativa privada é crucial neste processo de cuidado com o meio ambiente. Se cada organização assumir sua responsabilidade e implementar ações ambientais que deixem um legado, podemos fazer uma grande diferença”, afirmou Renato Costa, CSO, CMO e CIO da Odontoprev, que acompanhou de perto a expedição “Ondas Limpas na Estrada” quando ela estava passando pelo litoral nordestino.

Laura Fagundes, oceanógrafa, pesquisadora e voluntária da expedição, reforçou que os dados levantados pelo estudo são essenciais para a compreensão da gravidade do problema e para direcionar futuras ações. “Nossa missão agora é garantir que esse conhecimento chegue ao público de forma clara e acessível, para que todos possam transformar os espaços ao seu redor, especialmente as nossas praias.”.

A capitã da expedição e também coordenadora da Sea Shepherd Brasil, Mara Oliveira, reforçou a importância da iniciativa e encerrou o evento com uma reflexão sobre o papel do plástico na sociedade. “Não se trata de demonizar o plástico, mas de promover um uso consciente e sustentável. Engajamos centenas de pessoas durante a expedição, e acreditamos que é possível promover mudanças de comportamento e aumentar a conscientização sobre o impacto que cada um de nós tem no meio ambiente”.

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