Taiwan é uma ilha localizada na Ásia Oriental, com extensão territorial de apenas 36,2 mil quilômetros quadrados, no entanto, sua economia é gigante, visto que seu PIB em 2023 foi de US$ 185,2 bilhões, graças à sua produção de semicondutores, detentora de dois terços do mercado global. Agora, a TAITRA (Conselho de Desenvolvimento do Comércio Exterior de Taiwan), organização sem fins lucrativos de promoção comercial de Taiwan, está engajada na missão de compartilhar suas políticas de sustentabilidade com os outros países a fim de construir um futuro mais sustentável e promover globalmente a indústria verde globalmente.
Tal missão começou pelo Brasil, onde na última semana, em São Paulo, a TAITRA organizou o workshop ‘Go Green with Taiwan – Sustentabilidade e Clima: Construindo juntos um futuro sustentável’, no qual diversas propostas foram discutidas entre os executivos, gestores, profissionais da indústria, acadêmicos, pesquisadores e jornalistas presentes.
Na abertura do evento, Sandra Shih, diretora da TAITRA no Brasil, foi categórica ao revelar que Taiwan pretende investir em parcerias com outras nações, entre elas o Brasil, por conta de sua grande biodiversidade, para implementação de projetos sustentáveis. “Não queremos apenas exportar produtos para o Brasil, mas também investir em ferramentas tecnológicas para melhorar a educação ambiental do país. Diferente do Brasil, que tem muitos recursos naturais, em Taiwan temos poucos recursos, então tivemos que aprender a reutilizar energia e água. Nossa intenção é aproveitar projetos que tenham foco em economia de energia, transporte com baixa emissão de carbono e outras ideias que promovam a sustentabilidade a nível global”.
Presentes no encontro como palestrantes, Haidê Iraí Scatamacchia, analista de negócios ESG e climáticos no banco BV; Marivaldo Vale Albuquerque, diretor do Innovation Studio; Paulo Zanardi Jr., fundador e Chief Climate Officer da consultoria GSS Carbono e Bioinovação e da VBIO – Vitrine da Biodiversidade Brasileira, e Rubens Ferreira, coordenador do programa Compromisso com o Clima no Instituto Ekos Brasil, destacaram as iniciativas brasileiras e o papel do governo e das empresas nacionais na bioeconomia.
Ferreira lamentou que um dos contratempos é que as leis demoram muito tempo para entrar em vigor no Brasil. “Com a COP 30 prestes a ser realizada aqui, ainda estamos longe do ideal. Acredito que falta alinhamento das estratégias para que consigamos atingir os objetivos de sustentabilidade. Quando se fala em mudança climática, estamos envolvendo todo o planeta. Temos que começar a fazer agora para colher os benefícios no futuro. A gestão de resíduos, por exemplo que é de 4% no Brasil, em Taiwan chega a 59%. Lá a reciclagem industrial é de 89%. Temos que aprender com os taiwaneses. Ver quais são as melhores práticas mundiais e aplicar em nosso país.”
Já Zanardi destacou que as empresas brasileiras já estão investindo voluntariamente em bioeconomia, principalmente nos aspectos da descarbonização. “Não existe bioeconomia sem biodiversidade, então, precisamos aprender o valor da biodiversidade. Temos a Lei 13.123, de acesso ao patrimônio genético brasileiro e de proteção à biodiversidade, oficializada em 2015, que é o instrumento que regulamenta a bioeconomia e a biotecnologia. Para se ter uma ideia do potencial da bioeconomia, podemos citar um medicamento, largamente utilizado para a hipertensão, desenvolvido a partir do veneno da jararaca brasileira, que gera US$ 3 bilhões de receita. Temos que valorizar e valorar os nossos recursos.”
Representando o setor bancário e financeiro, Haidê ressaltou as questões que afetam os investimentos em ESG e enfatizou a dificuldade para desvendar a ‘sopa de letrinhas’, como SEC (Securities and Exchange Commission), SASB (Sustainability Accounting Standards Board), TCFD (Task Force on Climate-related Financial Disclosures) e SFDR (Sustainable Finance Disclosure Regulation), dos requisitos regulatórios de cada país para facilitar as exportações. “Precisamos tropicalizar essas legislações, seguir os padrões climáticos e seguir a adicionalidade. Ou seja, medir os benefícios extras e os resultados diretamente resultantes das iniciativas de ESG. Ações, como descarbonizar e reflorestar e políticas de riscos ambientais, que antes eram considerados como custo para as empresas, agora são vistos como um investimento. Os padrões ESG são encarados pelo mercado financeiro como formas de melhorias de processos que visam retorno financeiro. Passa a ser um círculo virtuoso e o sistema bancário está cada vez mais engajado com os seus clientes para a concessão de crédito.”
O amazonense Marivaldo, que atua em áreas de tecnologia e inovação, falou da responsabilidade governamental nas questões ambientais e da relevância das startups na pesquisa e desenvolvimento. “O Brasil tem uma forte política nacional de incentivos para os empreendedores nas áreas de bioeconomia e sustentabilidade, principalmente, para a produção de energia limpa. Porém, apesar de ágeis nas iniciativas, as startups enfrentam desafios para suas soluções ganharem escalabilidade ao longo do tempo e isto só será possível por meio de parcerias. Por isso, é muito positiva esta interação com Taiwan por conta da cooperação que venha existir entre as empresas desses dois países. No Brasil, sem ser escaláveis, os pequenos empreendimentos não têm acesso fácil aos grandes mercados. A proposta da TAITRA é uma oportunidade para as startups adquirirem força por meio de parcerias com empresas taiwanesas, visando a qualidade de vida dos cidadãos. Todos os temas de sustentabilidade são urgentes e não podemos esperar cinco anos para torná-los realidade. É uma oportunidade de construir um grande legado para ter a possibilidade de viver um mundo sustentável.”
Campanha ‘Go Green with Taiwan’ oferece premiação de US$ 20 mil aos três melhores projetos de sustentabilidade
A TAITRA, em conjunto com outros órgãos governamentais, empresas de energia verde sustentável e associações industriais taiwanesas e diplomatas estrangeiros em Taiwan, lançou recentemente a campanha global ‘Go Green with Taiwan’, iniciativa que busca reunir propostas inovadoras de soluções que promovam a indústria verde globalmente. Interessados a participar já podem se inscrever no site da campanha e as três melhores ideias receberão uma premiação de US$ 20 mil cada, além de viagens a Taiwan para aprender sobre as práticas sustentáveis do país. Para saber mais sobre o processo de inscrição de propostas e outras informações do ‘Go Green with Taiwan’, basta acessar o site oficial.