Apesar dos avanços lentos e graduais nas últimas décadas, o Brasil continua sendo um país marcado por imensas desigualdades econômicas e sociais. Milhões de pessoas convivem diariamente com a miséria e a pobreza, especialmente no interior e nas regiões Norte e Nordeste do país. Diante desse cenário que perpetua a falta de mobilidade social de algumas famílias geração após geração, a educação surge como um dos principais aliados para romper o ciclo de extrema pobreza.
Pesquisas e estudos acadêmicos são unânimes em demonstrar que o investimento público em educação no Brasil é frequentemente mal gerido, falhando em oferecer oportunidades aos jovens das áreas mais remotas. Milhões de crianças e adolescentes abandonam a escola precocemente para contribuir com o sustento de suas famílias, perpetuando a miséria e a desigualdade.
Não é surpreendente, portanto, que o Brasil apresente resultados muito abaixo da média no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA). Este estudo, realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), avalia o conhecimento e as habilidades de estudantes de 81 países, com idades entre 15 e 16 anos, em matemática, leitura e ciências.
Na última edição do PISA, divulgada no final de 2023, o Brasil ocupava a 52ª posição em leitura, a 62ª em ciências e a 65ª em matemática. Em contraste, países como Singapura, Japão, Canadá, Coreia do Sul e Finlândia, que historicamente investem em educação, estão entre os primeiros colocados.
Estudos comprovam que os níveis de desigualdade social estão diretamente relacionados à educação. Segundo o Índice Gini, que mede a concentração de renda, o Brasil é o 14º país com maior desigualdade do mundo, ao lado do Congo e atrás de nações como a Guatemala. Em comparação, Japão, França e Alemanha estão entre os países com menores índices de desigualdade de renda.
Esses resultados deixam claro que há um longo caminho a percorrer para que possamos alcançar os níveis dos países desenvolvidos. A única maneira de equilibrar essa balança é através da educação, um dos pilares fundamentais para transformar o Brasil em um país menos desigual, onde todos tenham acesso a mais e melhores oportunidades, gerando mais riqueza para a sociedade. Somente um investimento maciço a longo prazo será capaz de transformar a realidade brasileira e oferecer condições para que as próximas gerações possam buscar conhecimento.
No entanto, não podemos esperar que a mudança venha apenas através somente do investimento público em educação. É preciso o envolvimento de toda a sociedade, fomentando uma rede de apoio à educação por meio do financiamento de empresas e pessoas físicas a Organizações Não-Governamentais (ONGs) e entidades sem fins lucrativos.As entidades da sociedade civil, como o Instituto Ponte, desempenham um papel efetivo na busca por bolsas de estudo, reforço educacional, apoio psicológico e auxílio financeiro, permitindo que estudantes em situação de vulnerabilidade social continuem seus estudos e interrompam o ciclo de pobreza e desigualdade.
Os impactos para os jovens que recebem apoio para continuar os estudos vão além do próprio estudante e chegam às suas famílias. Além de abrir portas do conhecimento e proporcionar uma ascensão econômica e social para toda a família, o estudo motiva e incentiva irmãos mais novos e demais familiares a não desistirem da educação
Milhares de crianças e adolescentes talentosos, vocacionados e estudiosos, que poderiam transformar o mundo e a realidade de suas famílias por meio da educação, são obrigados a desistir dos estudos por falta de condições financeiras. Estender a mão a esses jovens significa abrir as portas para uma nova vida.
Não há dúvidas de que o desenvolvimento social e econômico de uma nação se faz com o aumento do capital intelectual e humano, geração de ideias e conhecimento, e uso de tecnologias e ciência. Tudo isso passa pela educação. Contribuir para que os jovens tenham direito a uma educação de qualidade é um papel de toda a sociedade.
Bartira Almeida, fundadora e presidente do Instituto Ponte.