Como entusiasta de pautas ESG e um grande amante das Olimpíadas (principalmente pela incrível capacidade de um evento unir, numa esfera global, tamanha diversidade de esportes, pessoas e culturas), não poderia de deixar de exaltar a evolução, em termos sociais, ambientais e de governança, que estamos vendo nos Jogos Olímpicos 2024, em Paris – já destacados como os mais verdes da história.
Alguns exemplos desses avanços têm sido notados ao longo dos anos, até chegarmos aqui. As Olimpíadas de Atenas, em 1896, foram as precursoras do modelo que vimos até hoje, com jogos que continuam a ser realizados a cada quatro anos. Entretanto, foi apenas em 2000, em Sidney, que os Jogos Olímpicos adotaram um plano ambiental abrangente, incluindo a gestão de resíduos, a conservação de energia e água, e a minimização do impacto ambiental das instalações esportivas. As Olimpíadas de Londres, em 2012, foram notáveis pelo compromisso com a sustentabilidade, incluindo a utilização de materiais recicláveis, a criação de espaços verdes e a promoção de transporte público e sustentável. No Rio de Janeiro, em 2016, alguns locais de competição receberam certificações ambientais, como o padrão LEED (Leadership in Energy and Environmental Design). Tóquio, em 2021, deixou um legado comunitário positivo para as comunidades locais, incluindo melhorias em infraestrutura pública, espaços verdes e oportunidades educacionais. E, muito mais do que uma celebração do esporte, as Olimpíadas de Paris, em 2024, estão sendo um marco na incorporação de práticas sustentáveis e responsáveis.
Acredito que as principais novidades giram em torno da esfera ambiental (representando o E de “Environmental”, do ESG). Algumas delas: A infraestrutura sustentável do evento como um todo envolveu a construção de instalações permanentes e temporárias seguiram padrões ecológicos, sendo que 95% dos locais que estão recebendo as disputas são em edifícios antigos já existentes ou em estruturas temporárias; os edifícios novos, por sua vez, serão reaproveitados pelos moradores locais, após o término do evento. Além disso, foram construídos com menos cimento, mais madeira e aço (material infinitamente reciclável), já trazendo painéis solares e vegetação nos telhados; A utilização de energias renováveis e transporte sustentável, um empenho do comitê organizador em reduzir as emissões de carbono em 50%, em comparação com as Olimpíadas anteriores – e, para compensar as emissões inevitáveis, foram realizadas iniciativas de reflorestamento e outros projetos, como a confecção de 11 mil assentos feitos com plástico reciclado e a elaboração de um cardápio planejado com mais vegetais e menos carnes; Os programas de reciclagem e compostagem implementados para reduzir ao máximo a quantidade de resíduos enviados para aterros – vale destacar que as estações de descarte de resíduos estão com uma melhor sinalização, acompanhadas de campanhas educativas para incentivar o público a descartar o lixo corretamente; E, é claro, os esforços realizados para a despoluição do Rio Sena (digo esforços porque apesar de contarem com um mergulho da prefeita de Paris para comprovar a despoluição, algumas competições de triatlo sofreram atrasos devido ao não atendimento aos padrões de qualidade da água); Uma curiosidade que é motivo de orgulho pra mim: o aço mais sustentável da ArcelorMittal (produzido com 100% de sucata reciclada e com energia renovável certificada) está presente tanto na tocha que carrega a chama olímpica, quanto nos anéis instalados na Torre Eiffel.
Em relação ao aspecto social (o “S”, da sigla ESG), destaco os esforços significativos que foram feitos para garantir a inclusão e a diversidade, tanto nos esportes quanto nas oportunidades de emprego associadas aos jogos: a acessibilidade foi pensada desde a construção de instalações até a programação de eventos, para incluir pessoas com deficiência; Segundo o Olympics, é a primeira vez na história que o evento alcançou a paridade numérica de gênero, com o mesmo número de atletas homens e mulheres participando das competições – a delegação do Brasil contribuiu consideravelmente para o feito, com 55% de atletas mulheres; O número de atletas declaradamente LGBTQIA+ é também o maior da história: 155, sendo 23 brasileiros(as), segundo levantamento da Outsports, publicação especializada no tema. O evento foi projetado para deixar um legado duradouro nas comunidades locais, com investimentos em infraestrutura e programas sociais que continuarão beneficiando a população a longo prazo, após o término dos jogos, como melhorias no transporte público e nas edificações.
Por último, mas não menos importante: no que diz respeito à governança (letra “G” do ESG), o comitê organizador declarou seu comprometimento com práticas transparentes e responsáveis, garantindo a integridade em todos os aspectos da organização e execução dos jogos. O envolvimento ativo de stakeholders, desde atletas até as comunidades locais, buscou garantir que as vozes de todos sejam ouvidas e consideradas, por meio de consultas públicas prévias. A adesão a padrões internacionais de sustentabilidade, conformidade, governança e regulação visam assegurar que todos as práticas e processos sejam responsáveis, éticos e legais. Alguns exemplos: o alinhamento com a Agenda 2030 das Nações Unidas e os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – Alguns dos ODS mais relevantes para o evento incluem o ODS 7 (Energia Limpa e Acessível), o ODS 11 (Cidades e Comunidades Sustentáveis) e o ODS 12 (Consumo e Produção Responsáveis). A adoção da ISO 20121 (norma internacional que especifica os requisitos para um sistema de gestão de sustentabilidade de eventos) ajudará a garantir que todos os aspectos do evento, desde o planejamento até a execução e desmontagem, sejam geridos de forma sustentável. Sem dúvidas, as Olimpíadas de 2024 em Paris estão definindo um novo padrão para eventos esportivos globais, ao integrar profundamente os princípios ESG em seu planejamento e execução. E, ao fazer isso, não só estão promovendo a sustentabilidade e a responsabilidade social, mas também estão inspirando as futuras gerações a seguirem pelo mesmo caminho.
Pedro Henrique Andrade Borges, analista sênior de Descarbonização e ESG da ArcelorMittal Brasil.