As tecnologias de alta performance de processamento de dados prometem ser excelentes aliadas na luta pela preservação ambiental. A principal vantagem é conseguir dar conta de uma imensa base de informação e gerar dados para ações de recuperação de áreas degradadas e de conservação ambiental de forma muito mais rápida. É isso que um supercomputador do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), do Departamento de Informática da Universidade Federal do Paraná (UFPR), fará nas próximas semanas, quando iniciar o processamento de Terabytes de dados ambientais do Paraná reduzindo em 24 vezes o tempo de análise das informações.
A ação faz parte de uma parceria do C3SL com os departamentos de Botânica e Biodiversidade da UFPR a partir de convênio com o NAPI Biodiversidade Serviços Ecossistêmicos, com foco em desenvolvimento de ações e políticas sustentáveis, que garantam a manutenção dos serviços ecossistêmicos à sociedade. As áreas ambientalmente degradadas do Paraná estão sendo computacionalmente catalogadas por pesquisadores da UFPR, usando tecnologia que identifica ausência de espécies-chave de flora e de fauna.
“Estamos empenhados em aliar os avanços tecnológicos à preservação do meio ambiente, fornecendo aos pesquisadores uma ferramenta poderosa e inovadora. Com o potencial de processamento oferecido pelos equipamentos da UFPR, os pesquisadores podem ampliar significativamente o escopo de seus estudos, incorporando uma quantidade muito maior de dados e integrando um volume muito mais abrangente de informações. Isso permite que eles obtenham resultados muito mais completos e precisos em suas pesquisas”, destaca o pesquisador do Departamento de Informática da UFPR, Marco Zanata.
Segundo dados do MapBiomas, o Estado do Paraná perdeu 20 mil hectares de vegetação nativa nos últimos cinco anos, o equivalente a 20 mil campos de futebol. As regiões Norte e Noroeste do Paraná são áreas que estão fragmentadas há décadas, mas recentemente os alertas de desmatamento têm se concentrado nas regiões Centro-Sul e Sudoeste. O mapeamento das espécies permite avaliar quais e quantas espécies foram perdidas junto com essa vegetação nativa que foi destruída.
O processamento destes dados, contudo, era o principal desafio do projeto. Sem o apoio do supercomputador do C3SL, o processamento desses dados em um computador convencional de oito núcleos de processamento demoraria quase dois anos. No entanto, com a entrada do C3SL no projeto do Departamento de Biodiversidade da UFPR, o mapeamento será concluído em menos de um mês. O equipamento disponibilizado pelo C3SL é um computador de alto desempenho (HPC, high performance computer em inglês), que utiliza simultaneamente 250 núcleos de processamento.
Segundo o pesquisador do departamento de Biodiversidade da UFPR em Palotina e integrante do projeto de mapeamento, Victor Zwiener, as tragédias ambientais e extremos climáticos são provas de que chegamos a um ponto crítico em que apenas conservar o que ainda resta já não é mais suficiente. “É preciso restaurar o que foi destruído ao longo de 500 anos. Podemos dizer que as raízes do projeto estão firmadas na proteção do meio ambiente, mas esperamos que os frutos desse projeto sejam o desenvolvimento econômico e principalmente social de maneira mais sustentável”, destaca.
Além de mapear as áreas degradadas, o projeto também gerará planos de conservação e de restauração com interesse econômico para o Paraná, que poderão potencialmente ser postos em prática. A modelagem realizada considerou a ocorrência de 7.214 espécies registradas no Paraná, incluindo plantas como erva-mate, pinheiro-do-paraná e palmito-juçara, e animais, como onça-pintada, o mico-leão-da-cara-preta e a gralha-azul. Com essa poderosa ferramenta computacional, o Paraná está dando um passo importante na direção da conservação e recuperação de seu valioso patrimônio natural. O mapeamento detalhado das áreas degradadas e a elaboração de planos estratégicos serão fundamentais para orientar as ações de preservação e restauração ambiental no estado.