sábado, dezembro 14, 2024

Auditoria PCAOB robusta protege governança corporativa

Compartilhar

Quando grandes empresas como as Lojas Americanas enfrentam crises beirando a falência é natural surgirem essas dúvidas: o que as auditorias internas revelavam? Onde estavam os conselheiros? E as análises dos credores? Como essas falhas passaram despercebidas?

A perplexidade prevalece ao tentar compreender como problemas tão graves escaparam à detecção, especialmente em se tratando de uma empresa com capital aberto.

Em comunicado  divulgado  ao  mercado,  a  varejista  relatou  que  foram descobertas “inconsistências em lançamentos contábeis” em seus balanços financeiros no valor de R$ 20 bilhões, afetando a confiança de investidores no setor do varejo e provocando a volatilidade nos preços das ações deste e de outros mercados.

Essas falhas, quando ocorrem em empresas de capital aberto, que possuem exigências mais rigorosas, reforçam a importância da transparência e responsabilidade em todos os níveis da gestão. Auditorias internas eficazes, aliadas a ferramentas de análise inteligentes, são um meio de assegurar a estabilidade e a sustentabilidade das empresas. A lição que devemos tirar desses eventos é a necessidade de fortalecer práticas de governança para proteger os interesses dos investidores e demais stakeholders contra futuros desastres financeiros.

Recentemente, em resposta às demandas do mercado, a B3 publicou Consulta Pública que propõe uma série de alterações regulatórias focadas na evolução da governança corporativa e na proteção dos investidores, visando o aprimoramento do Novo Mercado.

Entre as principais mudanças propostas, aparece o ‘Reforço da Confiabilidade das Demonstrações Financeiras’, que exige de CEOs e CFOs das companhias atenção à eficácia dos controles internos, com auditoria independente. Esse reforço nos controles internos e na governança corporativa é inspirado por regulamentações como a SOX 404 nos EUA, promovendo transparência e integridade financeira.

Governança corporativa em conformidade com padrões internacionais

Aprimorar a mitigação de riscos de fraude requer uma abordagem holística, que envolve a integração de ferramentas e sistemas interligados. Uma auditoria PCAOB (Public Company Accounting Oversight Board), caracterizada por sua meticulosidade e abrangência, desempenha um papel crucial nesse processo. Ao examinar os controles internos e compliance, as empresas não apenas buscam atender aos requisitos regulatórios, mas fortalecer sua resiliência e sustentabilidade.

Bastante difundida no âmbito internacional, a auditoria PCAOB é uma exigência regulatória nos Estados Unidos para empresas de capital aberto. Entretanto, apenas empresas listadas nas bolsas de valores dos EUA estão sujeitas à PCAOB. Empresas estrangeiras que negociam através de American Depositary Receipts (ADRs) também ficam sujeitas à auditoria. No Brasil, a Vale é um exemplo.

Consultorias e especialistas que utilizam padrões internacionais atuam como essa inspeção mais reforçada, especialmente relevante para empresas de grande porte, já estabelecidas no mercado de capitais ou almejando o IPO (Initial Public Offering), objetivo para o qual integridade e transparência são valores essenciais.

A capacidade de identificar e mitigar proativamente os riscos de fraude não apenas protege os interesses dos investidores e partes interessadas, mas também fortalece a reputação e a credibilidade da empresa no mercado.

Adotar uma abordagem proativa e aprimorar continuamente os processos de governança e mitigação de riscos envolve investimentos em tecnologia avançada, capacitação de pessoal e parcerias estratégicas com empresas especializadas em auditoria e conformidade.

Exemplos incluem as gigantes de tecnologia, como Google, Microsoft e Apple, que investem em programas abrangentes para garantir a transparência e a conformidade regulatória em suas operações globais. No contexto brasileiro, além da Vale, Natura e Itaú têm priorizado a governança e a gestão de riscos como parte de sua estratégia de negócios.

Além disso, é crucial fomentar uma cultura organizacional que valorize a integridade, a responsabilidade e a prestação de contas em todos os níveis. Isso envolve não apenas o cumprimento estrito de políticas e regulamentos, mas também a promoção de comportamentos éticos e transparentes em todas as interações comerciais.

Princípios de Governança Corporativa em sintonia com práticas ESG

Ter uma abordagem focada em transparência não apenas fortalece a resiliência das empresas diante dos desafios, mas também as posiciona como agentes de mudança, em linha a outras vertentes do ESG. Além disso, ao fomentar uma integração entre governança corporativa, responsabilidade ambiental e compromisso social, as empresas asseguram sua sustentabilidade no longo prazo, ao mesmo tempo em que contribuem de maneira significativa para um impacto positivo na sociedade como um todo, reforçando a reputação da marca e agregando valor de mercado.

Investir em governança robusta e práticas de auditoria inteligentes não é apenas uma medida defensiva contra riscos e fraudes, mas uma estratégia proativa para construir um legado de confiança e sustentabilidade. Empresas que lideram com esses valores são mais capazes de atrair e reter talentos, fortalecer relações com clientes e parceiros e sua posição no mercado.

Implementar uma auditoria PCAOB e fortalecer seus controles internos e práticas de governança vai além da mera conformidade regulatória: é uma necessidade estratégica. Vejo como uma abordagem primordial para garantir a sustentabilidade e a resiliência das empresas em um ambiente de negócios cada vez mais complexo e exigente.

Izabela Yumi,  CFO da CIAL Dun & Bradstreet, mãe da Gabrielle, mentora da WCFO Brazil e da FGV Ventures, além de coautora do livro Mulheres nas Finanças.

Leia Mais

Outras Notícias