A relação entre desigualdade social e emissões CO2 está atrelada com padrões de consumo, acesso a recursos e desenvolvimento econômico, isso porque as pessoas com maior poder aquisitivo consomem mais recursos, incluindo energia, alimentos e bens de consumo, o que pode resultar em maiores emissões de carbono. Para exemplificar o que estou dizendo, os 10% mais ricos do mundo são responsáveis por 50% das emissões globais de CO2. Já o 1% mais rico foi responsável por 16% das emissões em 2019. Esse valor equivale a mesma quantidade emitida pelos 66% mais pobres (5 bilhões de pessoas), de acordo com o relatório “Igualdade Climática: um Planeta para os 99%”, lançado recentemente pela ONG Oxfam International.
Temos alimentos e terras suficientes para todos, mas o problema é que isso está muito concentrado. A desigualdade das cidades é uma das grandes responsáveis pelas emissões de gases do efeito estufa, e não digo isso comparando somente às emissões das grandes indústrias, mas quando falamos de estilo de vida. Os mais ricos emitem muito mais.
Além da desigualdade que precisa ser avaliada, considerada e mudada, é necessário compreender alguns limites nas vidas das pessoas mais pobres. Hoje, no Brasil, ainda temos muitos desafios como acesso à água potável e saneamento básico. Então, como é que você vai falar para alguém que mal tem moradia, que ela precisa se preocupar com questão ambientais, gestão de resíduos, consumir certo tipo de material? Chega a ser desumano cobrar alguém de fazer escolhas mais sustentáveis se essa pessoa não tem a opção de escolher.
Mesmo que os mais pobres tenham falta de acesso a tecnologias limpas, resultando numa dependência contínua de fontes mais poluentes, ainda assim, são os que menos poluem. A desigualdade social e economia está totalmente relacionada às mudanças climáticas.
Fernando Beltrame, com mais de 20 anos de experiência em projetos de consultoria, sustentabilidade e estratégia Net Zero.
