quinta-feira, dezembro 26, 2024

Inspirada em um modelo de gestão corporativo, empreendedora social beneficia mais de 84 mil pessoas por ano na periferia de São Paulo

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“Que nenhuma criança passasse fome e tivesse uma casa para morar”. Esse sempre foi o propósito de Rosane Luciane Chene, 53 anos, que migrou de executiva na área de tecnologia a empreendedora social. Ela fundou uma ONG que hoje beneficia mais de 84 mil pessoas por ano, em Pirituba, na periferia de São Paulo. Há 21 anos, a ONG PAC (Projeto Amigos da Comunidade) gera impacto social positivo para pessoas em situação de vulnerabilidade por meio de sete programas de assistência.

Comandada por Rosane, em 2023, a ONG contribuiu para que mais de 240 famílias das mais de 1.150 assistidas pudessem ter condições sociais, emocionais e econômicas de seguirem autônomas. Para isso, Rosane utilizou suas softs skills de gestão corporativa e expertise na área da tecnologia para desenvolver metodologias e estratégias que subvertessem os desafios presentes no Terceiro Setor (desde escassez financeira a necessidade de inovar).

Nesse sentido, a empreendedora social implementou, com o apoio de uma equipe multidisciplinar, composta por assistentes sociais, psicólogas e pedagogos, o sistema de Gestão da Assistência Social (GAS). Uma plataforma automatizada que reúne dados colhidos pelas assistentes sociais e consegue indicar quais são as necessidades a serem trabalhadas com cada família atendida pela ONG. A partir desse sistema, a organização pôde colher dados e identificar, por exemplo, que mais de 72% dos atendidos correspondiam a pessoas negras, e a partir disso, elaborar programas como: o AfroPAC, que oferece formações workshops e letramento racial a comunidade, o PAC Zen, que oferece um espaço gratuito voltado exclusivamente para cuidados com a saúde mental e bem-estar das famílias e comunidades assistidas pela ONG, entre outros.

“Com o sistema conseguimos entender com detalhes as necessidades das famílias cadastradas. Dessa forma, podemos oferecer recursos para a promoção de uma transformação social efetiva”, comenta Rosane Chene, empreendedora social e diretora da ONG PAC.

Para Rosane, o investimento em inovação e diversificação das fontes de rendas foram fundamentais para a ONG PAC crescer e “ir além do assistencialismo e promover o impacto social positivo” por meio da geração de renda, educação e profissionalização de jovens e adultos.

“É possível gerir uma ONG com profissionalismo e bons resultados. Agregar os conhecimentos da gestão na área de tecnologia foram cruciais para aliar criatividade e inovação, para tomar decisões estratégicas”, comenta a empreendedora social.

Para garantir o propósito da ONG, a empreendedora também desenvolveu uma cultura organizacional com visão de negócio, no qual considera seus assistidos como clientes, utilizando indicadores como NPS (Net Promoter Score) que mede a satisfação com a organização e também é uma ferramenta de avaliação dos projetos oferecidos. “Infelizmente, na nossa cultura, acredita-se que pessoas que estão em situação de vulnerabilidade devem aceitar qualquer tipo de ajuda. No PAC trabalhamos de outra forma, nosso objetivo é oferecer um serviço de qualidade a comunidade, essas pessoas são nossos principais clientes”, aponta Rosane Chene.

Trajetória

Filha do meio de três irmãos, Rosane nasceu e cresceu na cidade de Jundiai, à 60 km da capital paulista. Iniciou sua carreira profissional cedo como escriturária fiscal, em um escritório de contabilidade e em paralelo aos estudos se matriculou em um curso técnico de Processamento de Dados.

O curso logo lhe rendeu outro emprego, como digitadora de faturamento e ali ela descobriu sua paixão pela área da tecnologia.

A gravidez aos 19 anos, da sua primeira filha, não a impediu de continuar sua carreira e seguir com os estudos na área. Em 1994, já como estagiária em tecnologia, Rosane foi incentivada por amigos para candidatar-se a vaga de desenvolvedora de software na TOTVS, passou e tornou-se a primeira mulher a exercer essa função na empresa. Em cinco anos, Rosane chegou ao cargo de gerente de projetos e logo depois, executiva de desenvolvimento de software na TOTVS, figurando como única mulher na história da empresa a ocupar essa posição até aquele momento, contrariando estáticas de um setor dominado por figuras masculinas.

Segundo dados do mais recente Relatório de Diversidade da Brasscom, a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), apenas 36% das mulheres na área de Tecnologia ocupam cargos de liderança.

Mesmo sendo referência no setor de tecnologia, Rosane sempre carregava sua preocupação com a desigualdade social. Em paralelo ao seu trabalho, ela realizava atividades de voluntariado corporativo na TOTVS, no projeto social da empresa o Instituto da Oportunidade Social (IOS).

Com o trabalho voluntário no IOS, liderou inúmeras transformações até receber o convite do fundador da TOTVS para a presidente projeto social.

Por cinco anos, Rosane conciliou a carreira de executiva na TOTVS, a de presidente do IOS, além de sua responsabilidade como mãe. A executiva atuou na posição de presidente do IOS durante 8 anos. No total, dedicou-se por quase 30 anos na área da tecnologia, sendo 19 anos somente na TOTVS ocupando posições de liderança.

Além do voluntariado corporativo e a atuação com o IOS, Rosane também participava de iniciativas voluntárias, reunindo amigos para visitar casas de acolhimento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade.

Dessa iniciativa com amigos que foram se multiplicando, ela fundou oficialmente em 2003, na região de Pirituba (SP) a ONG “Projeto Amigos das Crianças (PAC)”. Em 2017, já com sua segunda filha Luíza e seu envolvimento com a ONG cada vez maior, Rosane tomou a decisão de deixar o cargo de liderança na empresa para se dedicar ao PAC, como cofundadora e diretora.

A partir disso, passou a aplicar as principais técnicas de gestão, aprendidas ao longo de sua carreira como executiva na área da tecnologia. Com isso, a empreendedora social viu o projeto crescer, assumir novas frentes e ampliar sua atuação para adultos, adolescentes, até chegar em toda a comunidade. Em razão disso, em 2022, a ONG passou a se chamar “Projeto Amigos da Comunidade”. Hoje, com mais de 21 anos de atuação, o PAC conta com mais de 100 colaboradores e mantém oito programas sociais (CCA, SASF, três SAICAS, Jovem com Futuro, POP – Programa de Oficinas PAC e PAC Zen), além de oficinas culturais e de geração de renda que atendem mais de 7.000 pessoas em situação de vulnerabilidade social, nos bairros de Pirituba, Jaraguá e Pq. São Domingos, mensalmente.

Sobre o PAC - Projeto Amigos da Comunidade 

Fundado há 21 anos, o PAC – Projeto Amigos da Comunidade uma Organização Social sem fins lucrativos certificada pelo CEBAS – Certificação de Entidades Beneficentes de Assistência Social - que atende a população em situação de vulnerabilidade e/ou risco social nos distritos de Pirituba, São Domingos e Jaraguá (SP).  Atualmente, o PAC conta com mais de 100 funcionários, cerca de 5.000 voluntários, 192 mantenedores via doação e mais de 10 empresas parceiras que subsidiam as oficinas promovidas pela organização, como Elo, Sow, Co.Aktion, Netas, Totvs Meridional, R3 e Zendesk.     

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