O Instituto Serrapilheira anunciou, nesta quarta-feira (26), os 33 pesquisadores selecionados em dois editais que vão injetar mais de R$ 21 milhões em ciência no Brasil. Uma das chamadas públicas, voltada exclusivamente a pós-docs negros e indígenas da área de ecologia, selecionou 13 pessoas. A outra, com 20 aprovados, focou em cientistas em início de carreira com cargos permanentes em instituições de ensino e pesquisa e que atuam nas áreas de ciências naturais, ciência da computação e matemática. As chamadas contam com parceria e cofinanciamento do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) e de 11 Fundações Estaduais de Amparo e Pesquisa (FAPs).
O objetivo dos dois editais é criar condições para jovens cientistas do Brasil desenvolverem suas pesquisas com recursos financeiros e autonomia na escolha dos projetos. A distribuição dos valores para os cientistas vai variar conforme alguns critérios, como o tipo de uso a ser feito dos recursos, e está sendo avaliada caso a caso com cada FAP, com intermediação do Confap. Os selecionados são de 12 estados no total.
“Cada vez que terminamos um processo seletivo como este, fica evidente que há jovens cientistas de excelência, fazendo perguntas inovadoras e originais, espalhados por todo o Brasil”, destaca Cristina Caldas, diretora de Ciência do Serrapilheira. “A parceria com as FAPs amplifica nosso apoio, mas ainda assim temos recursos limitados, e cientistas merecedores, competitivos internacionalmente, acabam ficando de fora. Por isso, precisamos de mais recursos robustos e flexíveis para a ciência, públicos e privados, inclusive para pensar em estratégias de descentralização e apoio a cientistas de todas as regiões do Brasil.”
Um dos aprovados no edital para pós-docs é Elison Floriano, indígena com doutorado em entomologia e conservação da biodiversidade pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), no Mato Grosso do Sul. Em seu projeto, Floriano vai estudar as abelhas nativas da região do Pantanal a partir dos conhecimentos do povo indígena Terena.
Outra selecionada é a pesquisadora Fernanda Costa, da Universidade de Brasília (UnB), aprovada no edital da 7ª chamada, que vai buscar hipóteses para entender como os espaços verdes urbanos têm impacto na biodiversidade tropical e nos benefícios prestados pela natureza, como oferta de água e alimentos.
Os principais critérios avaliados pelos revisores das chamadas foram originalidade, ousadia da pesquisa e o quanto o projeto pode contribuir para as áreas relacionadas aos estudos.
“A parceria entre o Confap e o Instituto Serrapilheira reforça o apoio à pesquisa no Brasil, promovendo sinergia e complementaridade na seleção e financiamento de projetos de pesquisa de alto risco e impacto”, enfatiza Odir Dellagostin, presidente do Confap. “Essa colaboração traz benefícios tanto para a comunidade científica quanto para a sociedade, aumentando significativamente a capacidade de financiamento de projetos de grande impacto”.
7ª chamada pública de apoio à ciência
Ao todo, foram selecionados 20 pesquisadores na 7ª chamada pública de apoio à ciência. A iniciativa é direcionada a cientistas em início de carreira com projetos ousados e arriscados nas áreas de ciências naturais (ciências da vida, física, geociências e química), matemática e ciência da computação.
Cada selecionado receberá ao todo entre R$ 200 mil a R$ 700 mil, a serem usados ao longo de cinco anos. Eles também terão acesso a um bônus de diversidade, no valor de R$ 150 mil, recurso extra para investir na formação e inclusão de pessoas de grupos sub-representações em suas equipes.
Os projetos selecionados pela chamada são diversos. Vão desde investigar se existe transmissão cultural de dialetos vocais em primatas além dos humanos até construir modelos estatísticos para melhor estimar a incidência de doenças infecciosas, ao longo do tempo, em regiões com populações pequenas e má qualidade dos dados.
Conheça os cientistas selecionados aqui.
2ª chamada de apoio a pós-docs negros e indígenas em ecologia
O edital exclusivo para apoiar pesquisas de pós-doutorados negros e indígenas da ecologia selecionou 13 cientistas. A iniciativa visa aumentar a participação de grupos sub-representados na ciência, colaborando, a médio prazo, para que alcancem posições formais como professores e pesquisadores em universidades e institutos de pesquisa.
Os aprovados vão fazer pós-doutorado em grupos de pesquisa nos quais não tenham se formado nem atuado antes, nos estados das FAPs parceiras do edital: Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e Pará. Além de bolsa mensal de R$ 8 mil, os selecionados vão receber ao todo entre R$ 550 mil e R$ 800 mil, a serem usados ao longo de três anos, renováveis por mais dois anos. Esta é a segunda vez que o Serrapilheira lança um edital exclusivo para negros e indígenas – a primeira foi em 2023.
Os temas de pesquisa passam pelo papel das florestas secundárias da Amazônia, pelo crescimento da população de mosquitos que são vetores de doenças como consequência das mudanças climáticas, e pela distribuição dos benefícios prestados nos ecossistemas urbanos entre diferentes grupos socioeconômicos nas maiores cidades do país.
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Sobre o Instituto Serrapilheira
Lançado em 2017, o Instituto Serrapilheira é uma instituição privada, sem fins lucrativos, que promove a ciência no Brasil. Foi criado para valorizar o conhecimento científico e aumentar sua visibilidade, ajudando a construir uma sociedade cientificamente informada e que considera as evidências científicas nas tomadas de decisões. O instituto tem três programas: Ciência, Formação em Ecologia Quantitativa e Jornalismo & Mídia. Desde o início de suas atividades, já apoiou financeiramente mais de 300 projetos de ciência e de comunicação da ciência, com mais de R$ 90 milhões investidos.