segunda-feira, outubro 21, 2024

O ESG como você conheceu está morto

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No início de 2021, auge da pandemia de Covid-19, o CEO da maior gestora do mundo chacoalhou o mercado ao falar, com todas as letras, que empresas com propósito, alinhadas às boas práticas ambientais, sociais e de governança (o famoso ESG), haviam registrado desempenho superior às demais. Naquele ano, em sua tradicional carta endereçada aos CEOs de companhias investidas pela organização, Larry Fink, à frente da BlackRock, pontuou que 81% de uma seleção global representativa de índices sustentáveis tiveram desempenho acima do esperado em relação aos índices de referência originários.

“Quanto mais a sua empresa puder demonstrar seu propósito em entregar valor aos seus clientes, seus colaboradores e suas comunidades, melhor será sua capacidade de competir e entregar lucros duradouros, de longo prazo, para os acionistas”, escreveu Fink na época, reflexo de uma ideia de que é possível lucrar e ao mesmo tempo fazer do mundo um lugar melhor.

Corta para 2024. Nas últimas semanas, diversas análises têm dado conta de que a BlackRock “abandonou” o ESG. Fink parou de mencionar a sigla publicamente e o relatório da organização divulgado em janeiro não faz nenhuma menção ao termo, trazendo a chamada “resiliência financeira” como prioridade para este ano. De forma muito resumida, trata-se da capacidade de uma organização se recuperar de dificuldades financeiras momentâneas a partir de planejamento e gestão. Um dos motivos para essa mudança de postura da gestora seriam as críticas que vem recebendo de grupos com orientações ideológicas mais conservadoras.

Significa um retorno ao “capitalismo selvagem”, que busca o lucro pelo lucro, somente, sem considerar impactos positivos e negativos na sociedade e no meio ambiente? Penso, por óbvio, que não. A própria BlackRock não deixou de lado os investimentos alinhados à lógica ESG. No já citado último relatório, a organização coloca a transição para uma economia de baixo carbono como uma oportunidade de inovação de produtos, alinhada às atuais políticas públicas, tecnologia e preferências dos consumidores.

Precisamos levar em conta, entretanto, qual é o sentido do ESG para o negócio. Uma pequena ou média empresa (PME) que ainda não está plenamente profissionalizada, sem processos estruturados, deve passar as questões ambientais e sociais à frente de questões básicas para a organização?

Aqui abro parênteses: reforçar que a governança, por outro lado, é, sim, essencial a qualquer negócio, sendo necessário estar presente desde o início. Falando de preocupações ambientais e sociais, entretanto, há prioridades mais urgentes; essa empresa precisa, antes de tudo, sustentar-se de modo firme, sem correr o risco de se debruçar sobre determinado tema por puro modismo e cair em greenwashing.

Isto posto, acredito que é necessário buscar um equilíbrio entre demandas ambientais e sociais e resultados financeiros. Esse ponto de equilíbrio é fundamental para a evolução da adoção de iniciativas ESG: se elas não estiverem associadas à necessidade de resultados financeiros saudáveis, não são sustentáveis a longo prazo. Não é possível evoluir na adoção de princípios ESG em detrimento de resultados econômicos a médio e longo prazos. Para ser bem-sucedida, a adoção dessas práticas deve ser precedida de análises críticas sobre a convivência dos pilares e a perenidade das empresas.

A integração efetiva de considerações EESG (Economic, Environmental, Social, Governance) nas tomadas de decisão fortalece a posição competitiva das empresas e, ao mesmo tempo, contribui para um futuro mais sustentável. É um processo que requer uma abordagem equilibrada e fundamentada, livre de ilusões e baseada em análises criteriosas do impacto real das iniciativas de ESG e suas implicações financeiras.

Claudio Vita Filho, conselheiro certificado pelo IBGC e foi vice-presidente do Itautec por 15 anos.

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