Nos últimos anos, o conceito de ESG (Environmental, Social, and Governance) tem se tornado uma referência para avaliar a sustentabilidade e o impacto social das organizações.
Mais do que uma tendência passageira, discutir e estruturar práticas pautadas em ESG representa uma profunda mudança de paradigma e exige uma transformação abrangente nas práticas de gestão, especialmente nas iniciativas de Recursos Humanos (RH).
Um estudo “Tendências de RH 2023” elaborado pela Korn Ferry, revelou que 67% das empresas no Brasil já adotaram o ESG como um pilar estratégico. No entanto, 33% ainda não o seguem. O relatório também indicou que 75% das empresas planejam adotar as práticas, mas 25% comentaram não ter esse propósito.
Essa transformação não é apenas desejável, mas necessária para que as empresas prosperem em um mundo cada vez mais consciente de suas responsabilidades sociais e ambientais.
A incorporação dos princípios ESG nas empresas transcende políticas ambientais e governança transparente. O componente social do ESG demanda uma atenção especial às práticas do setor de recursos humanos, que são cruciais para promover uma cultura organizacional alinhada com esses valores.
O RH através de suas políticas, programas e práticas possui a capacidade de influenciar diretamente o comportamento, o engajamento e o bem-estar dos colaboradores, elementos fundamentais para a construção de um ambiente de trabalho ético e sustentável.
Para que ESG não se limite a um discurso vazio, é imperativo que as organizações reavaliem sua cultura corporativa. Isso começa com o comprometimento da liderança, que deve ser a primeira a abraçar e exemplificar os valores ESG, demonstrando por meio de suas ações que a sustentabilidade e a responsabilidade social são prioridades reais.
Inclusão e diversidade: um pilar fundamental
Dentro da dimensão social, as práticas de diversidade, equidade e inclusão são fundamentais, dado que diversidade não é apenas uma questão de justiça social, mas também de eficiência organizacional. Empresas diversas tendem a ser mais inovadoras e a adaptar-se melhor às mudanças do mercado.
As organizações devem identificar se a diversidade é praticada em toda etapa da jornada do funcionário, desde o recrutamento e seleção, desenvolvimento, remuneração, sucessão até a jornada de offboarding. Ouvir as pessoas e valorizar suas propostas impulsiona a criatividade, a inovação, a satisfação e o senso de pertencimento Promover comitês de diversidade é inclusão é bom começo para empoderar as pessoas e envolve-las na transformação.
Outro aspecto importante é o bem-estar dos colaboradores. Programas de saúde mental, equilíbrio entre vida profissional e pessoal e ambientes de trabalho seguros e saudáveis são componentes essenciais de uma estratégia de RH alinhada com ESG.
Colaboradores que se sentem valorizados e cuidados são mais engajados e produtivos, contribuindo para a sustentabilidade a longo prazo da organização. Investir no bem-estar dos funcionários não é apenas uma boa prática, mas também uma estratégia empresarial inteligente.
Como prova disso, em dados divulgados pela pesquisa “Futuro do Trabalho”, 60% dos millennials (nascidos entre 1981 e 1996) confirmaram que se sentiriam mais inspirados a trabalhar em empreendimentos que adotem essa política internamente.
Além disso, a formação e desenvolvimento de competências alinhadas aos princípios ESG devem ser uma prioridade. Isso inclui não apenas treinamentos técnicos, mas também a promoção de habilidades comportamentais e éticas.
Programas de educação contínua e oportunidades de desenvolvimento profissional ajudam a criar um quadro de funcionários bem-preparados para enfrentar os desafios de um mundo em constante mudança. O desenvolvimento de uma força de trabalho adaptável e resiliente é essencial para a longevidade e sucesso das organizações.
Por fim, a transparência nas práticas de RH é um componente essencial da governança dentro do ESG. Processos claros, comunicação aberta e uma política de feedback contínuo são práticas que devem ser incorporadas para garantir que todos os níveis da organização estejam alinhados com os objetivos sustentáveis e responsáveis. A transparência constrói confiança, tanto internamente quanto externamente, e é a base de uma cultura organizacional robusta e ética.
Alguns pontos ainda atrapalham os avanços do ESG nas empresas. De acordo com a pesquisa Panorama ESG Brasil 2023, pesquisa elaborada pela AMCHAM em parceria com a Humanizadas, 38% dos executivos têm dificuldade em mensurar e monitorar indicadores ESG dentro das corporações. Além disso, a maioria diz que há uma forte ausência de uma cultura de sustentabilidade (32%) e a falta de recursos financeiros para investimentos. Outro ponto é que os líderes têm familiaridade com o tema, mas é necessário acelerar o desenvolvimento das equipes.
No entanto, garanto ao reavaliar e ajustar suas práticas de RH, as empresas não apenas respondem às demandas atuais, mas também se posicionam como líderes em um mundo que valoriza a sustentabilidade e a responsabilidade social.
Luiza Metzner, head de RH da Paschoalotto.