“Quem vai ficar com seu filho enquanto você trabalha?”. A pergunta feita às candidatas mães a uma vaga de emprego, nem sempre feita aos homens, escancara os obstáculos enfrentados pelas mulheres no mercado de trabalho. Ainda alvo de preconceito, as mães se deparam com maior resistência para conseguir trabalhar depois de terem filhos. E mesmo as que engravidaram estando empregadas nem sempre são acolhidas pelas empresas após a licença-maternidade.
De acordo com uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2021, enquanto 54% das mulheres que possuem filhos de até três anos trabalham, 89% dos homens com filhos nesta idade estão empregados. O nível de ocupação das mães apresenta dados ainda piores quando analisamos o recorte racial: entre as mulheres negras, a taxa de ocupação fica abaixo dos 50%.
Para combater essa desigualdade, a gerente sênior de Cultura, Desenvolvimento Organizacional e Comunicação do grupo multinacional Up Brasil, Marinildes Queiroz, defende que as empresas coloquem essas mulheres no centro das ações de melhores práticas dos grupos e comitês de diversidade e equidade.
“Além das frentes já conhecidas, como mulheres, negros, pessoas com deficiência, LGBTQIA+, as mães devem ser um grupo de atenção dos responsáveis por políticas internas das empresas e dos comitês. Precisamos olhar para este conjunto de pessoas com um olhar sensível, criando soluções que colaborem para a sua permanência no mercado de trabalho”, destaca a executiva.
Para Marinildes Queiroz, as mulheres que são mães precisam de maior flexibilidade das empresas para continuar a executar as duas tarefas, a de funcionária e a de mãe. “O cuidado doméstico e dos filhos, mesmo hoje, recai sobre a mulher, e com isso estamos falando de mais de 20 horas semanais extras, além das horas dedicadas ao trabalho formal”, lembra. Em média, os homens dedicam apenas metade deste tempo aos cuidados dos filhos e da casa.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), as mulheres, no Brasil, chefiam 40% das famílias e trabalham 10 horas a mais do que os homens. Outro estudo realizado pela economista Claudia Goldin, publicado no The Economist, aponta que 24% das mulheres deixam de trabalhar no primeiro ano após serem mães.
Para a executiva é crucial reconhecer que a sobrecarga materna, o preconceito no local de trabalho e os desafios emocionais são realidades enfrentadas por muitas mulheres. Infelizmente, não é surpreendente que esses fatores resultam na maioria das mães deixando o mercado de trabalho. À medida que buscamos uma sociedade mais igualitária, as empresas têm um papel fundamental em criar políticas e programas inclusivos que atendam às necessidades das mães.
Com o intuito de colaborar no cuidado da família e na conciliação com o trabalho, a Up Brasil oferece, às mães com filhos de até 14 anos, a possibilidade de fazer o trabalho 100% home office durante o período de férias escolares. “A maioria dos colaboradores da empresa são mulheres, e nosso grupo de diversidade na UP levou ao Comitê executivo essa proposta, que foi aceita. Este é um benefício que traz a flexibilidade de que as mães precisam”, destaca Marinildes.
A executiva comemora e também desfruta do benefício. “Eu tenho dois filhos e para mim essa possibilidade ajuda no cuidado deles durante as férias. As empresas devem usar a criatividade para acolher e reter essas mães, que muitas vezes trazem muito ganhos tangíveis e intangíveis para a empresa, pela sua experiência com a maternidade”, conclui.