São enormes as oportunidades e o espaço para o desenvolvimento e criação de novos negócios com base na economia circular. Segundo uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 76,4% das indústrias já desenvolvem algum tipo de economia circular, mesmo sem conhecerem o conceito. Manter os materiais e os recursos na economia por mais tempo, por meio do reuso, reciclagem, retornando-os aos setores produtivos para reduzir o desperdício, a extração de recursos naturais, o impacto no meio ambiente, gerar valor econômico, social e ambiental. Assim é o modelo de economia circular, essencial tanto para resolver os desafios dos resíduos – pois sabemos que não existe “jogar fora” – como para comprir com o compromisso de reduzir o avanço das mudanças climáticas.
Nesse cenário, as cooperativas de reciclagem têm um papel fundamental, pois são responsáveis por coletar, separar e encaminhar materiais de volta para a cadeia produtiva. Além de contribuir para a economia circular e para o desenvolvimento sustentável, eles evitam que os materiais sejam desviados para lixões ou aterros sanitários, rios e mares, poluam o meio ambiente e tragam danos à saúde pública. Elas são o elo essencial nessa cadeia, protagonistas da economia circular e das oportunidades de crescimento socioeconômico no Brasil.
A categoria é responsável por quase metade da coleta seletiva no Brasil, recuperando quase 1 milhão de toneladas de materiais recicláveis em doze meses de acordo com um estudo do Instituto de Energia e Ambiente da USP. A coleta de recicláveis pode promover inclusão e reduzir desigualdades, gerando renda e emprego para milhares de pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade social. O levantamento do Anuário da Reciclagem de 2020 da Associação Nacional de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis, revela que há quase 1 milhão de catadores em todo Brasil, entre organizados em cooperativas e aqueles que atuam de forma individual nas ruas e lixões, e que são responsáveis por 80% dos resíduos que são recuperados no país.
No entanto, os catadores ainda enfrentam muitos desafios, como condições precárias de trabalho, sem segurança, proteção trabalhista ou social, discriminação e violência por parte da sociedade, falta de reconhecimento, de infraestrutura, de políticas públicas, de educação e de comunicação. Com o engajamento das empresas e poder público, os avanços devem acontecer.
É importante que todos os segmentos dessa cadeia fortaleçam o trabalho das cooperativas, garantindo seus direitos, sua dignidade e inclusão socioeconômica. Capacitação, organização financeira, fortalecimento das cooperativas, melhoria na infraestrutura, incentivos fiscais, parcerias estratégicas e apoio de novas tecnologias são alguns passos importantes para fortalecer essa categoria de trabalhadores, reconhecendo e valorizando seu papel fundamental na sociedade.
As novas tecnologias, inclusive, são facilitadoras e promotoras de maior produtividade e rentabilidade. Um exemplo, que já está em prática na cooperativa Viva Bem, que atua em São Paulo, é o uso do dispositivo portátil de espectroscopia de infravermelho próximo, o trinamiX, que determina com precisão os tipos de plásticos que, apesar visualmente semelhantes, podem ter diferenças importantes em suas propriedades mecânicas e químicas, causando perda importante de qualidade no processo de reciclagem. A tecnologia facilita a separação dos diferentes tipos de polímeros com maior confiabilidade e segurança – o que gera mais valor e lucratividade ao material, e reduz consideravelmente o refugo, o descarte de plásticos que não puderam ser identificados e separados. Sem o apoio da tecnologia, a separação é realizada por metologias manuais e às vezes insalubres como a queima do plástico.
A parceria, batizada de “Cooperativas Mais Tecnológicas”, está sendo ampliada para a América do Sul, com a entrega do primeiro dispositivo trinamiX na Argentina, para a Recuperadores Urbanos de Oeste. Esta cooperativa opera em vários bairros de Buenos Aires e conta com mais de 1.000 trabalhadores que cooperam por benefícios econômicos, socioambientais, além de contribuir para as políticas públicas de limpeza urbana.
A inovação, a tecnologia e as parcerias se mostram fundamentais para que toda a potência do movimento da circularidade aconteça. E ela inclui o processo de eduçação da sociedade, para que entenda não só o quanto é essencial a destinação correta dos materiais, a separação do chamado “lixo seco”, mas também a importância e o valor do trabalho dos catadores, como protagonistas de um futuro sustentável.
Conheça as parcerias com as Cooperativas Viva Bem e Recuperadores Urbanos de Oeste nos vídeos do YouTube.
Jade Rodriguero Dino, engenheira química e gerente de produtos de Aditivos para plásticos da BASF América do Sul.