quinta-feira, dezembro 5, 2024

Como promover a revolução sustentável na indústria?

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No passado recente, a visão do setor privado sobre regulamentação social e ambiental era comumente governada pelo princípio da conformidade legal. Acreditava-se que as empresas deveriam cumprir as leis ambientais vigentes, e qualquer outra consideração era relegada a segundo plano. No entanto, diante do crescente cenário de crises ambientais, o senso comum mostra que apenas obedecer às leis não é suficiente para garantir um futuro próspero para as próximas gerações.

Isto se trata de uma mudança profunda. O chamado law enforcement (aplicação da lei) não é mais suficiente quando se trata de sustentabilidade, pois o impacto desta está longe de se restringir ao ambiente da empresa. Em meio a uma rotina em que chovem notícias do mundo todo sobre incêndios florestais, tempestades, derretimento de calotas polares e outros desastres devido ao aquecimento global, esse esforço é pequeno.

O motivo para isso é muito simples: o planeta está no limite, continuar fazendo o mesmo de sempre simplesmente não vai funcionar. Quais negócios e empresas podem seguir operando normalmente inseridas num mundo em colapso? Mais do que nunca, a atuação e o protagonismo do setor privado com relação a assuntos ligados à sustentabilidade se tornam fundamentais.

Diante dessa realidade, surge a pergunta crucial: a indústria se transformará em direção à sustentabilidade de forma proativa e estratégica, elaborando projetos para tanto (“by design”), ou será forçada a fazê-lo por meio de crises e desastres (“by disaster”)? As empresas podem escolher agir proativamente, impulsionadas pela intenção de modernizar suas práticas e promover uma transição sustentável. Ao adotar medidas como a redução das emissões de carbono, a minimização do uso de recursos não renováveis e o investimento em energias renováveis, elas não apenas contribuem para a preservação do meio ambiente, mas também se posicionam como líderes visionários em seus setores.

Por essa via trafegam as empresas que apostam na sustentabilidade como alavanca de negócios e como ferramenta para captação de investimentos e redução de custo de transações. Neste caminho encontram-se empresas que, além da gestão de seus impactos socioambientais, buscam gerar valor para a sociedade por meio da implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

A mudança de olhar da Orizon Valorização de Resíduos sobre a gestão de resíduos é um exemplo notável de como uma empresa pode se transformar e prosperar ao abraçar a sustentabilidade. A empresa, que antes fazia a gestão de resíduos de forma simples, agora os reconhece como um recurso valioso. Essa mudança estratégica resultou em diversos benefícios, como tornar a companhia líder em gestão de resíduos no Brasil, com receita e lucros em ascensão, além de oferecer serviços diversificados e ser referência em impacto ambiental positivo.

Ações que implicam benefícios para o meio ambiente e que são percebidas pelos consumidores, como redução de lixo ou redução de pegada de carbono, hídrica, entre outras, podem ser o início deste processo. Buscar olhar além do que são as demandas obrigatórias, enxergando os riscos da inação e oportunidades de se colocar à frente do mercado com um diferencial ESG (abordagem que considera os temas ambientais, sociais e de governança da empresa) devem ser consideradas nesta via.

Pela via da do desastre (“by disaster”), as empresas que optarem por ignorar as questões ambientais correm o risco de enfrentar consequências dolorosas no futuro. O prejuízo social, ambiental e econômico associado à degradação ambiental e às mudanças climáticas pode ter impactos devastadores em suas operações e reputação. Além disso, as regulamentações ambientais estão cada vez mais rigorosas em função dos impactos que vivemos atualmente, somadas à pressão de clientes e consumidores B2B e B2C.

Com razão, a sociedade hoje em dia exige padrões ambientais cada vez mais rígidos. São as famosas “externalidades” que por anos não foram consideradas nos processos produtivos. A questão, neste caso, deixa de ser moral e passa a ser econômica. Segundo o relatório “O Caso Econômico para a Natureza”, do Banco Mundial, a partir de uma perspectiva conservadora, o colapso em serviços que dependem diretamente de equilíbrio ambiental, como a polinização selvagem, o fornecimento de alimentos provenientes da pesca marítima e madeira provenientes de florestas nativas, poderia resultar em declínio no PIB global equivalente a  2,7 trilhões de dólares até 2030.

O que se perde diante da catástrofe climática é de valor inestimável, muitas vezes significando comunidades inteiras, extinção de espécies, fontes de água limpa e vidas humanas. Sendo assim, aquilo que é insustentável começa a ser precificado. A indústria precisa assimilar que os produtos já estão sendo entendidos de outra forma: não apenas pelo menor custo, mas pelo seu impacto no meio ambiente. E numa sociedade cada vez mais rigorosa em relação aos padrões ambientais, a mudança da tributação para acelerar modelos mais sustentáveis é irreversível.

A boa notícia é que as ações para mudança não precisam ser tomadas individualmente. A união de esforços de empresas para trazer soluções ou melhorias quanto a desafios socioambientais vêm sendo vista como positiva no mercado, como os Movimentos lançados pelo Pacto Global da ONU no Brasil, que funcionam como chamado às empresas brasileiras para reconhecerem a urgência e a necessidade de promover ações concretas com metas, assumindo compromissos públicos. Outro exemplo é o movimento que vem sendo feito pela Associação Brasileira da Indústria de Álcalis, Cloro e Derivados, a ABICLOR, que reúne empresas dos diferentes setores (produtores, distribuidores e transportadores) em torno de compromissos para avançar com ODS considerados como prioritários pelo setor, uma iniciativa que integra a cadeia na busca por modelos mais sustentáveis.

Os caminhos vêm se apresentando de forma cada vez mais clara no mercado, no qual as ações pela sustentabilidade se mostram cada vez mais indispensáveis não apenas para a sociedade, clientes e outras partes interessadas, mas também para a perenidade do negócio no longo prazo.  Se a importância da sustentabilidade na indústria é um fato, fica para cada negócio a decisão do caminho escolhido: “by design” ou “by disaster”.

Milton Rego, Presidente-Executivo da Abiclor e da Clorosur. Engenheiro mecânico, economista e especialista em gestão, o executivo acumula mais de 30 anos de atuação na indústria em empresas nacionais e multinacionais.

Tatiana Araújo, Diretora na Sustentati Consultoria, Managing Director Brasil na CharIN, Conselheira na GRI, professora no MBA ESG Ibmec, atua junto ao Pacto Global da Onu no Brasil  e em outras frentes como especialista em sustentabilidade com cerca de 20 anos de experiência.

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