terça-feira, outubro 8, 2024

As políticas de investimento dos bancos da AL estão no topo da lista de credibilidade de finanças sustentáveis

Compartilhar

Os clientes dos bancos de varejo na América Latina afirmam que a política de investimento do seu banco é o elemento mais importante das suas credenciais de “financiamento sustentável”, de acordo com uma pesquisa realizada em seis países pela Sherlock Communications.

Quando questionados aos latino-americanos o que esperavam de um banco que afirma ser sustentável, 43% em toda a região disseram que a clareza em torno da política de investimento do banco era crítica, mais do que qualquer outro elemento. No Brasil, 38% consideram a transparência importante.

Além de ser o elemento mais importante das reivindicações de sustentabilidade de um banco, 81% dos entrevistados (sendo 83% dos brasileiros) afirmaram que os bancos devem informar os seus clientes sobre a forma como estão a utilizar os seus fundos de depósito. No entanto, apenas 27% dos respondentes brasileiros sentem que os seus bancos já forneçam informações claras sobre como investem o seu dinheiro, com outros 8% a reportarem que “sentem que os bancos partilham esta informação, mas tendem a colocá-la sem destaque no meio de outros textos.” Os números no Brasil vão de encontro com o que ocorre nos seis países latino-americanos pesquisados, já que 28% dos latino-americanos consideram receber informações claras e 9% informações “escondidas em textos”.

Apenas 6% dos entrevistados em toda a América Latina e 5% no Brasil  relataram que não se importam com a forma como os seus bancos investem o seu dinheiro.

“Este levantamento mostra muito claramente que existe uma grande lacuna entre as expectativas dos clientes relativas à transparência dos bancos de suas políticas e carteiras de investimento e a forma como os bancos estão realmente comunicando isso”, afirma Patrick O’Neill, sócio-gerente da Sherlock Communications.

Em relação ao que as políticas de investimento de um banco deveriam incluir, os latino-americanos relataram forte apoio a políticas que impediam os bancos de fornecer crédito a empresas que tenham impactos sociais e ambientais negativos: 83% dos entrevistados disseram que “as empresas que não tratam as pessoas com respeito e  dignidade não deveriam ter acesso ao crédito” e 83% também concordaram que “as empresas que não tratam bem o meio ambiente” também não deveriam ser elegíveis para empréstimos. No Brasil estes números são  ainda mais altos, sendo 89% e 90% respectivamente dos entrevistados.  Entretanto, 74% concordaram (82% no Brasil) com a afirmação de que “bloquear o crédito é uma ótima forma de exigir um melhor comportamento das empresas”.

Embora a grande maioria dos entrevistados tenha afirmado que as empresas deveriam ser excluídas do crédito por estarem ligadas ao crime organizado (80%), aquelas que causam desastres ambientais (80%) e aquelas ligadas ao trabalho infantil (78%). No Brasil os números apresentados respectivamente na pesquisa foram: 89%, 89% e 86%. No entanto, também houve surpreendentemente forte apoio ao corte do crédito a algumas indústrias tradicionais. Por exemplo, 49% de todos os entrevistados acreditam que os seus bancos não deveriam financiar empresas petrolíferas, enquanto 51% acreditam que as empresas de fast fashion também deveriam ser barradas de crédito, 55% acreditam que as empresas que operam na agricultura intensiva não deveriam ser financiadas por seus bancos e 59% gostariam de ver uma proibição do crédito para as indústrias de plásticos descartáveis. No Brasil, os números mostrados são parecidos, sendo  44%, 49%, 60% e 54% respectivamente.

“A pesquisa mostra que uma proporção significativa de latino-americanos acredita que seus bancos deveriam usar suas políticas de investimento para criar uma mudança no comportamento das empresas – e não apenas daquelas que estão claramente operando à beira da ilegalidade, mas também daquelas que estão ativas em indústrias que têm um impacto ambiental negativo”, afirma Pedro Gerhardt, sócio-gerente da consultoria de sustentabilidade Kaapora Finance e autor de ‘Finanças Verdes: Guia latino-americano para finanças sustentáveis’.

A boa  notícia para os bancos que estão a adotar – e a comunicar – tais políticas de investimento alinhadas com ESG é que poderão se beneficiar da abertura de novas  contas e entradas de depósitos. Mais da metade (52% na América Latina e 53% no Brasil) dos entrevistados disseram que a escolha da conta bancária foi influenciada pelo desempenho socioambiental do banco e 75% dos entrevistados (iguais 75% no Brasil) relataram que “mudariam de banco se soubessem de outra instituição com [melhores] prêmios de sustentabilidade e verificações”. Apenas 11 % dos brasileiros e dos latinos-americanos disseram que não estariam interessados em transferir a sua conta para um banco com práticas de sustentabilidade mais fortes.

“A mobilidade das contas aumentou na América Latina nos últimos anos, impulsionada pelas fintechs e pelas inovações regulatórias em torno do sistema bancário aberto e das agências de crédito positivo. Já se foi o tempo em que os grandes bancos de varejo da região tinham contas “cativas” de clientes e este levantamento mostra que os vencedores desta nova era de mobilidade bancária serão os bancos que tenham políticas de investimento fortes – e que consigam comunicar essas políticas de uma forma claro e digerível”, diz Gerhardt.

“Com o aumento do desgaste dos clientes em todo o setor bancário, o potencial de vantagem competitiva proveniente do financiamento sustentável será cada vez mais importante – e os bancos que não conseguirem abraçar este desafio terão dificuldade em manter as suas bases de financiamento de depósitos.”

Leia Mais

Outras Notícias