Os veículos leves eletrificados estão fascinando o brasileiro e ganhando mercado. Dados da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVA) indicam que, em 2023, o Brasil emplacou 93.927 carros elétricos ou híbridos de elétricos e etanol/gasolina. É um crescimento de 91% sobre 2022. A região Sudeste foi a que mais avançou na adoção deste modelo – 48.947 veículos elétricos foram comprados em 2023, um aumento de 101% sobre 2022.
Um estudo sobre o tema da Bain Company realizado a partir de entrevistas com consumidores do Brasil, Canadá, México, EUA e China revela que o Brasil é o país onde mais pessoas gostariam de comprar um carro elétrico. Entre os 42% que afirmam estudar a compra de um novo veículo, 61% prefeririam que esse carro fosse elétrico. A mesma pesquisa indica, ainda, o que dificulta esse avanço. O preço de compra (43%) é a maior preocupação, seguido pela indisponibilidade da rede de postos de recarga/carregamento no Brasil (33%).
Uma análise publicada em 2023 na revista inglesa Nature indica que, no estado da Califórnia (EUA), 1 entre cada 5 proprietários de veículos elétricos sente-se tão frustrado com o número de postos de recarga e a qualidade dos serviços oferecidos que pensa em retornar para um veículo a gasolina. Segundo a PwC, hoje há nos EUA 1,4 milhão postos de gasolina convencionais e 160.000 postos de recarga elétrica.
De acordo com a ABVA o Brasil conta, hoje, com 3800 eletropostos. Em 2022 havia 2.955 destas unidades em operação no País.
Esse pequeno número de postos de recarga impacta a experiência do proprietário do EV. Especialmente no caso de veículos elétricos não híbridos, há um medo real de, numa viagem pelas estradas do Brasil, não encontrar postos onde carregar a bateria do carro. Outro fator que dificulta a adesão a esse novo e sustentável modelo é a qualidade dos serviços oferecidos por esses postos. Conforme a infraestrutura da unidade visitada pelo motorista, o processo de recarga pode levar horas ou, por falhas de gestão, nem acontecer.
Uma excelente qualidade de experiência no volante de um EV exige que esse carro seja recarregado em qualquer ponto geográfico, com rapidez e confiabilidade (boa qualidade da energia elétrica).
Para se chegar a essa conquista, no entanto, é necessário que os gestores dos postos de recarga tenham um novo olhar sobre a sua infraestrutura. Uma estação de carga elétrica é necessariamente diferente de um posto de gasolina/alcool/diesel convencional.
O coração de um eletroposto é o dado
Sensores IoT implementados na estação de recarga têm de estar conectados à rede local do posto e, a partir daí, à Internet, de modo a enviar para os Apps que suportam os donos de carros elétricos informações sobre o funcionamento da estação, se os slots da estação estão vagos ou ocupados, parâmetros de entrega de energia em KW/hora e origem/qualidade da eletricidade – se é do grid ou se é sustentável, sendo gerada, por exemplo, por sistemas de energia solar ou eólica.
Para entender o novo paradigma que estamos vivendo, vale a pena estudar o modelo da rede de postos de recarga Volvo. O Department of Transportation dos EUA criou categorias para os diferentes postos de recarga. A mais avançada é a categoria DC Fast Charging, com estações que fornecem entre 50 KW/hora e 350 KW/hora. A rede Volvo aqui no Brasil está nessa categoria, atingido a marca de 150 KW/hora, o que reduz de horas para poucos minutos o tempo de recarga de uma bateria quase completamente descarregada.
No outro espectro desta experiência estão os pontos categoria 1 e 2, com potências que variam de 1 KW/hora até 80 KW/hora. Neste caso, para ganhar uma autonomia de 120 quilômetros, o tempo dispendido de recarga pode variar entre 20 horas e 40 minutos.
Nas estações Volvo, por trás de cada ponto de recarga há uma infraestrutura digital que troca dados entre a Volvo, a localidade onde está instalada a estação de recarga – em 2024 um acordo com a Carrefour Property levará esse serviço para lojas de varejo –, e os provedores de eletricidade Enel X e Vibra , além da WEG, fabricante das estações de recarga. Essa rede distribuída é alimentada 24×7 por sensores que apontam com precisão o status de cada elemento do ecossistema. Para o proprietário do veículo elétrico, tudo isso é transparente. O cliente interage o tempo todo com o App onde dados consolidados informam a ele ou a ela o que encontrará ao, numa viagem, parar para recarregar em uma das estações.
Autosserviço: digitalização elimina o papel dos frentistas
No mundo dos veículos elétricos, a interação entre o motorista e a estação é baseada em autosserviço, sem a intervenção de frentistas. Isso explica por que é fundamental que os dispositivos a serem utilizados pelo cliente, do cabo a ser conectado ao veículo ao seu próprio celular estejam plenamente operacionais.
É neste contexto que começa a ser desenhada uma revolução na gestão dos postos brasileiros.
Foi-se o tempo em que a diferença entre um posto e outro era o tamanho e a oferta de outros serviços como alimentação, oficina, borracharia etc. Na era dos EV, a infraestrutura digital do posto é crítica e atua como a ponta do iceberg de um ecossistema muito heterogêneo. Relatos de motoristas brasileiros irritados com a qualidade de serviço dos postos de recarga apontam desde falhas como a indisponibilidade do Wi-Fi no posto – algo essencial para que o App utilizado pelo cliente entregue a melhor experiência – como problemas com a estação de recarga.
Visão preditiva evita a frustração do motorista
Uma forma de evitar a frustração do cliente é utilizar plataformas de monitoramento multiprotocolo e com boa relação custo/benefício para ganhar uma visão preditiva dos “n” elementos digitais por trás da estação de recarga, do fornecimento de energia ao status do cabo de transmissão.
Quer a rede seja totalmente baseada em dispositivos IoT, quer esteja conectada a ambientes de TI, o dashboard criado com facilidade a partir de templates lança luzes sobre tudo o que se passa. O gestor do posto ou da rede de postos ganha uma visão centralizada que, quando necessário, pode chegar ao detalhe do detalhe do ambiente. Outro diferencial deste tipo de solução é sua simplicidade de uso. Telas interativas reduzem a necessidade de profissionais com grande expertise técnica, algo que vai ao encontro da realidade de muitas empresas brasileiras.
A cultura do EV demanda transformações estruturais para realizar seu potencial. Uma etapa fundamental desta jornada é refletir sobre o novo paradigma dos postos de recarga, quer sejam unidades autônomas, quer sejam novas áreas implementadas em postos tradicionais. A aliança entre sensores e uma plataforma de monitoramento que trabalha 24×7 para prever falhas e gerar alertas colabora com o encantamento do motorista desta nova geração de carros. Em 2024, postos de recarga 100% digitalizados e gerenciados são críticos para o avanço dos veículos elétricos no Brasil.
David Montoya, gerente Global de Desenvolvimento de Negócios de IoT da Paessler.